sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sinceridade feminina

Camila era despojada, espontânea, risonha e sincera. Gostava de conversar, gritar e falar palavrão. Era vaidosa e vestia com requinte seu corpo magro, bronzeado e de estatura mediana. Assim como seus dedos, seus lábios eram finos. Tinha seios naturais que cabiam em uma mão. Camila era também conhecida por outra característica: dava para qualquer um.

Camila gostava de transar e achava homem chato demais para namorar, por isso queria apenas a parte que importava. Como a maioria dos homens podia lhe dar o que queria então podia ser qualquer um.

Se pudesse Camila faria sexo todo dia e, se aguentasse, o dia inteiro. Não dava para dois ao mesmo tempo, mas se houvesse oportunidade daria para mais de um no mesmo dia.

Não era necessário galantear, conversar, levar para jantar, flertar. Não precisava nem dizer o nome. Bastava um “vamos transar” e pronto.

Sabia que outras mulheres queriam ser como ela. Não ligava para o que falavam e falava por si mesma. Repetia quantas vezes fosse preciso que dava para quem quisesse comê-la.

Mas tinha seus critérios e deixava bem claro que se não gostasse pararia tudo, se vestia e ia embora. Se isso ocorresse, Camila contaria para todo mundo o baixo desempenho do cidadão.

Esse fato afastava os homens que pudessem se aproximar pelo sexo. Tinham receio e até medo de ter seu desempenho sexual divulgado.

Camila morreu virgem.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Ora bola

Éramos seis naquela mesa de bar. Três casais, três damas, três senhores e apenas quatro testículos.

Não sei como chegamos àquele que se tornou o ponto alto da prosa, mas o fato é que dos senhores ali presentes eu era o único a possuir dois testículos. Os outros dois carregavam um cada um. Fiquei até feliz pelo encontro. Qual seria a possibilidade daquilo acontecer? Uma mesa com três homens dos quais dois tinham apenas um testículo?

Um dos rapazes leva a história numa boa e a revela sem maiores problemas, o que lhe rende muitos apelidos na firma, como “monobola” por exemplo. O outro não conta sua intimidade habitualmente e quando decidiu expor o vazio de seu saco escrotal encontrou um semelhante.

Imaginei que fosse de nascença quando fizeram aquela declaração, mas não. Um dos dois rapazes acordou um dia qualquer e lá estava uma bola de sinuca onde deveria ter uma de gude. Deve ser daí a expressão “acordar de ovo virado”.

Passado um dia foi em busca de médicos, dos quais os cinco primeiros disseram ser um câncer. O sexto apontou uma inflamação no testículo, fazendo o diagnóstico correto, diferentemente dos outros cornos (Corno é um dos piores xingamentos para um homem. Veja mais em “Ligações”).

Me impressionei tanto com a história do homem de um testículo só que não prestei muita atenção na história da bola do outro homem. Como não se faz omelete sem se quebrar alguns ovos foi necessária a remoção de uma das bolas em campo.

Mesmo com um jogador a menos eles são pessoas comuns: tem ereção normalmente e podem ter filhos. Um deles até encara longas maratonas sexuais, de acordo com sua senhora, o que demonstra que não faz falta alguma.

Apesar da normalidade, quando levantaram fiquei observando se andavam meio pensos para um dos lados, o que não se confirmou. Depois imaginei se eles têm algum tipo de benefício como lugares preferenciais para estacionar. Se houvesse como seria a placa indicativa?

Penso que deve ser meio diferente esteticamente. Por que no verão, por exemplo, aquela parte em questão já fica meio feia. Imagine na copa com apenas um peso.

Confesso que fiquei curioso. Mas nesse caso é melhor manter a curiosidade do que pedir para ver.

OBS: Hey, um de vocês dois, se estiverem lendo isso me contem uma coisa: depois de tirar o médico deixou vocês verem o lance?
Respondam anonimamente nos comentários.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tenha 15 com corpinho de 25. Pergunte-me como.

Sou um menino. Não passo de um simples menino de 25 anos que ainda age como tivesse 15.

Vivo sem motivações ou ambições.

Em escala maior, continuo fumando e bebendo. Não preciso comprar o cigarro mais barato e nem me esconder no meio do mato para fumar. Já sanei minha curiosidade pelo vinho, mas continuo bebendo (a mesma marca inclusive).

A diferença é que preciso pagar do meu bolso esse cigarro e esse vinho. Na verdade costumo marcar na conta, mas às vezes a véia me olha com cara de mau, aí sou obrigado a pagar.

Para ter esse dinheiro bato cartão em um dos muitos shoppings que habitam a capital ecológica. Quando perguntam o que faço, digo que trabalho “no setor administrativo-financeiro do ramo artístico”, o que se resume à apenas uma palavra: bilheteiro.

Com o que ganho pago mais ou menos o que consumo. Mas acho que se ganhasse mais não ia mudar muita coisa. Ia gastar mais ainda.

Acho que não preciso de muito para ser feliz. As pequenas coisas que me deixavam feliz aos 15 continuam as mesmas: ver o meu time ganhar, por exemplo.

O meu visual continua o mesmo. O cabelo que deixei crescer para tirar onda continua grande e já virou identidade. Dia desses vi uma foto antiga em que estava com uma camisa que ainda uso. E serve. Acho que ela cresceu junto comigo.

Como um menino, vivo por aí na rua com outros meninos. Ficamos sem fazer nada, só conversando e tomando coca. Às vezes nos reunimos também para jogar videogame. A tecnologia avançou, mas o ritual e a amizade continuam do mesmo jeito.

Como um menino, escrevo meus pensamentos e mais algumas histórias em um caderno. Depois coloco isso em um caderno virtual e espero que outras pessoas leiam.

Sonho que um dia eu possa colocar os meus pensamentos e histórias num outro tipo de caderno, com o meu nome na capa. Aí quem sabe eu não precise mais bater o cartão.

Que sonho de menino!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O meu sofá

Ela disse que era Qboa, mas eu sei. Era porra.

Sei até de quem era. Vizinho filho da puta. Já tinha percebido a troca de olhares e o jeito que ela falava com ele. Cadela. Ela não fala desse jeito com qualquer um. Não é simpática, nem um pouco. Nem com quem conhece ela conversa desse jeito.

E o pior é que o cara é gente fina, o filho da puta. Eu que o chamei para almoçar aqui em casa naquele dia. Naquele maldito dia em que se conheceram.

“É Qboa amor”. Por que teria Qboa ali? Na sala? Longe da lavanderia. Qboa de cu é rola, literalmente. Aquele cara que parecia meu amigo gozou no meu sofá. O sofá que paguei caro, que escolhemos sorridentes. Agora o branco do nosso sorriso se tornou o branco viscoso ao lado do qual sento para jantar.

Será que ela realmente espera que eu acredite? Justamente no dia em que ela não foi trabalhar por causa de uma suposta gripe aparece essa porra dessa mancha (ou seria essa mancha de porra?).

Toda vez que olhar pro sofá vou imaginá-los trepando. Posso até visualizar ele tirando o caralho veiudo da boceta da minha mulher e deixando cair porra no meu sofá.

Preciso fazer alguma coisa, mas o quê? Questioná-la, dizendo que sei o que aconteceu? E se ela assumir e me abandonar? E se ela me abandonar e for morar ao lado da minha casa? O que minha família vai dizer? O que eu vou dizer para minha família?

E se eu não disser nada? Vão continuar transando em cima do meu sofá?

Taquei fogo no sofá.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Aos amigos

“Quanto tempo”, “Que saudades”, “Por onde anda?”. Tenho ouvido bastante isso. Ouço de quem não deveria ouvir, de quem era próximo e deveria continuar sendo.

Com um sorriso meio sem graça respondo: “Tô trabalhando”. Curioso né? Se afastar para “ganhar” a vida. Proporcionalmente quanto mais trabalho mais me afasto. Aniversários, casamentos e até o tempo sem fazer nada. O tempo passa e não estou vendo. Enquanto deveria viver, vendo meu tempo.

Será que a vida adulta é isso? Viver à venda.

Queria manter todos sempre juntos. Os amigos de hoje e os de ontem, aqueles que você lembra e nem sabe por que se afastou.

Será que é uma justificativa? Será que não há a possibilidade de se ver, ligar, mandar um e-mail, uma carta? Carta não ia dar mesmo, por que o correio está em greve, mas será que é tão difícil cumprir o “vamos marcar uma qualquer hora”? No final somos todos culpados.

Tenho saudades, mas o amor é maior que a saudades.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Amor instantâneo

5 minutos
Comecei a ver uma vantagem em fumar. Pelo isqueiro é que começamos a conversar. Ela é bonita. Tem um jeito meigo de falar.

10 minutos
Ela é simpática

15 minutos
A conversa está fluindo. Isso é difícil, afinal somos curitibanos.

20 minutos
Ela é inteligente. É culta. Sabe conversar. Acho que vai rolar alguma coisa.

25 minutos
Disfarço meus defeitos. Tento fazer com que ela se interesse por mim como estou interessado por ela. Talvez pudéssemos namorar.

30 minutos
Somos tão iguais. Gostamos das mesmas coisas e naquilo que discordamos somos compreensíveis. É a mulher da minha vida.

Última meia-hora
Caraaaaaaaaaaaaaaalho, que guria chata. Essa criatura não cala a boca. Insuportável. Preciso sair daqui de algum jeito.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Vício

Sempre solto, vagando sem compromisso. Livre. “Um alcoólatra largado” diziam.

Um cachorro o acompanhava às vezes, mas quando a fome apertava o companheiro fazia suas expedições. Sua fidelidade não resistia à fome.

Como em um musical cantava pela rua sem motivo aparente. Vivia sorrindo e chorando. E falava, como falava. Principalmente sozinho. Por mais que alguns tentassem, ninguém conseguia ouvi-lo por muito tempo.

Vivia em extrema emoção, mas como a maioria das pessoas, quando estava sóbrio era frio, seco e tinha dificuldade em expor seus sentimentos. O consumo frequente do álcool fazia com que sua frieza fosse diluída.

A única coisa que tinha consigo era uma mochila na qual levava sua cachaça (gasolina, às vezes) e mais sabe-se lá o quê. Não carregava mais os seus sentimentos, os pulverizava.

Os escravos de bens materiais e carcereiros de sentimentos o julgavam e o chamavam de louco, doente, alcoólatra.

Tinha um vício sim, mas não era do álcool. Era um viciado em sentimentos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sala de espera

Alguma coisa vai acontecer. Não sei muito bem o quê, mas vai.

Até lá espero. Mesmo no desespero, continuo esperando.

Espero algo que mude minha vida. Um e-mail, uma ligação ou até mesmo uma carta. Talvez uma mensagem em uma garrafa. No aguardo, bebo todas as garrafas.

Continuo pobre enquanto espero o resultado da mega-sena (mesmo sem ter jogado). Espero a noite chegar para não fazer nada. Espero o sono enquanto me viro de um lado para o outro. Espero um aumento enquanto aumenta o meu trabalho. Espero a fila do banheiro enquanto prendo a respiração para não mijar nas calças. Espero a comida enquanto fico cada vez mais faminto. Espero o grande amor enquanto vivo pequenos amores noturnos. Espero uma grande oportunidade enquanto não faço nada para que ela aconteça.

Enquanto nada acontece continuo esperando. E a vida, essa grande espera pela morte, passa.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Espelho quebrado

Era ali onde vivia. Onde tudo acontecia. Onde sorria, mas não chorava. Ali criava sua ilusão e nela se espelhava.

Dedicava-se a criar e acreditar em sombras na caverna de Mark Zuckerberg. Era uma especialista em diversos assuntos (afinal, quem não é?). Ao longo do dia desfilava todas as qualidades em sua timeline: comentarista esportiva, defensora dos animais, polemista, noveleira, religiosa, filósofa, fofoqueira, fotógrafa, modelo, humorista, filantrópica, culta, moralista e acima de tudo um exemplo.

Entre murais, compartilhamentos, likes e comentários descobriu uma cutucada inesperada. Estava sendo traída.

A menina virtual não encontrou outra solução. Aquela vida pela qual tanto se dedicava deveria acabar: cometeu o facebookcídio.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O meu mundo

Vou dominar o mundo. Não no estilo Michel Teló ou no “the world is yours”. Mas vou dominar o meu mundo.

Vou fazer tudo o que quero para melhorar o meu mundo. O meu mundo vai ser o que eu quero e não mais o que o mundo quer que eu seja.

Amanhã pela manhã vou derrubar cada coisa e cada pessoa que acha que manda no meu mundo.

Não sei como, por que ou quando (quando nasci?) perdi o domínio, mas esse reino será meu.

Vou voltar para a minha profissão. Vou mandar meu currículo para todas as agências, jornais, assessorias, empresas e tudo nessa cidade que emprega, empregou ou vai empregar um jornalista. E algum deles vai me contratar. Tenho certeza. Se nenhum deles me quiser é por que estou definitivamente na profissão ou na cidade errada.

E tem mais. Vou escrever todo dia. Em menos de um mês o velho caderno vai ficar sem nenhum espaço. Nem pra anotação.

Vou publicar toda semana no meu blog. Se mantiver a periodicidade e a qualidade (?) alguém vai se interessar por isso e vai querer me publicar.

E quando esse alguém vier, já vou ter um livro pronto.

Com outros textos vou me inscrever em todo e qualquer concurso literário. Assim como no emprego, algum eu vou ganhar.

Também vou enviar textos para revistas, jornais, blogs e o que mais aceitar publicá-los.

Sim. Vai dar certo. Vou viver do que quero. Do que gosto. É só isso que eu quero. É simples, mas é preciso uma revolução. E ela vai começar. Já estou armado. Só preciso atacar.

Mas bem. Deixa eu ir dormir que amanhã cedo tenho que ir trabalhar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Alguém sobe a escada

É madrugada e alguém sobre a escada. Um desconhecido sobe a escada da minha casa.

Não vejo. Não sei quem é, mas é uma figura masculina.

Ele sobe decidido. Sabe o que quer. Mesmo no escuro ele não tateia por onde passa. Conhece a casa. Anda rápido, mas pra mim a ação se passa de forma lenta.

Ele tem um objetivo e vem cumpri-lo.

Chega ao cume e vem em direção onde estou. Nem mesmo olha para o banheiro ou para os outros dois quartos, um deles com a porta aberta.

Tem algo na mão direita. Algo que irá usar para cumprir sua meta. Uma arma? Um machado? Um martelo? Uma faca?

Se aproxima e praticamente encosta o corpo à porta. Toca a mão esquerda na maçaneta...

Acordo.

Me viro e olho para a porta. Misteriosamente a luz se acende. Meu coração dispara.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Odeio gente

Sim. Isso mesmo. Eu odeio gente.

Odeio gente antipática e odeio gente muito simpática.

Odeio gente que não fala nada e odeio gente que fala demais.

Odeio gente que julga quem bebe e odeio gente que bebe demais.

Odeio gente que maltrata os animas e odeio gente que os trata melhor do que gente.

Odeio gente que fala sempre a mesma coisa e odeio gente que fala muito sem saber.

Odeio gente que sorri demais e odeio gente carrancuda.

Odeio gente que acha que sabe de tudo e odeio gente sem opinião.

Odeio gente fria e odeio gente sentimental demais.

Odeio gente que se faz de coitada e odeio gente que só pensa em si.

Odeio gente que acha que aparência é tudo e odeio quem não tem estilo.

Odeio gente que resmunga e odeio gente que grita.

Odeio gente que ostenta e odeio quem é falso humilde.

Odeio gente que odeia futebol e odeio quem fala só de futebol.

Odeio gente que pensa ter muita intimidade e odeio quem finge não conhecer.

Odeio gente acomodada e odeio gente que só reclama.

Odeio gente que não lê e se você leu esse texto...bem, nesse caso eu te amo (tenho que agradar o público né!?).

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Voltei no tempo - Por Giovana D'Angelis


Voltei no tempo. Hoje acordei com 17 anos e apaixonada.

08h00 am
Estava com saudades de passar a manhã escutando For Fun e Leoni, achando que as músicas foram feitas para servir de trilha para nossa história.

11h00 am
Estava com saudades da dor no estômago, que hoje, estranhamente, acho gostosa.

14h00 pm
Saudades de escrever nove vezes o mesmo e-mail, mas não ter coragem de apertar “enviar”.

17h00 pm
Saudades de ensaiar as próximas conversas que desejo ter com você, mesmo sabendo que sempre acabo falando mais do que estava no roteiro.

19h00 pm
Estava com saudades de comer um pão de queijo o dia todo, e achar que engoli todos os nossos antigos sonhos empoeirados e indigestos.

22h00 pm
Saudades de pensar nas formas de te esquecer, ironicamente sabendo que não há receita para tal milagre.

00h00 pm
Saudades de demorar a dormir mais do que o de costume, e pegar no sono planejando os próximos 70 anos ao teu lado.

Mas o dia só tem 24 horas, e hoje acordei sem você: sem inspiração, sem paixão.


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Hoje quem visita o Di-Vagá com o seu brilho feminino é a senhorita Giovana D'Angelis. A moça é Di-Vogada em Curitiba.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Semelhança pouca é bobagem


Somos diferentes em quase tudo. Por dentro e por fora.

Ela tão elegante. Conhece moda. Vaidosa e inteligente. Gasta tanto com livros quanto com a beleza. Nem sei por que, afinal ela já é linda. Não fala nenhuma gíria. Socialista, gosta de MPB. Drama. Whisky. Restaurante. Ficção.

Eu todo largado. Nem aí pra roupa. Não vivo sem futebol e vídeo game. Durmo e acordo jogando. Passo o tempo na net. Capitalista, gosto de rock. Ação. Cerveja. Buteco. Quadrinhos.

Só temos uma coisa em comum: gostamos um do outro.

Infelizmente só isso não basta pra gente namorar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A Rede Social - Por Alexandre Fernandes

Afonso era do tipo galanteador e boa praça. Nunca quis se enrolar com nenhuma moça. Mas um belo dia se apaixonou por Glorinha. Uma linda moça dos cabelos cor de ouro. Que encantava a todos com sua beleza e com seu jeitinho conciliador.

Glorinha namorava Arthur. Um rapaz meio calado, que só falava quando era consultado. Ele vivia em seu mundinho particular dentro de sua cabeça e nas revistas em quadrinhos que colecionava. Dizia que era o rei de si mesmo.

Por causa deste jeito caladão de Arthur, Glorinha decide se separar de Arthur. Ele não aceitou muito bem. Glorinha saiu em busca de um novo amor. Afonso, malandro que é, se ofereceu para ser este novo amor. Glorinha prontamente aceitou para desespero de Arthur.

No facebook a linha do tempo de Glorinha indicava: Glorinha Castilho está em um relacionamento sério com Afonso Pires. Afonso curtiu. E o vingativo Arthur comentou: Já comi!

Fim

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Sim, sim, sim. Nessa semana o Di-Vagá recebe a nobre visita do nosso amigo Alexandre Fernandes, O Kibe (@alexxfernandes).
O Cara é jornalista e um dos responsáveis pelo site http://www.allejo.com.br.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Bolinho da vó

Edinho adorava ir à casa da vó, como todas as outras crianças. Adorava encontrar os primos na casa da vó, como todas as outras crianças. Adorava brincar na casa da vó, como todas as outras crianças. Adorava o bolinho da vó, que só a sua vó fazia.


Apesar de adorar ir à casa da vó não podia fazê-lo frequentemente. 12 horas e aproximadamente 914 Km o distanciavam. Somente uma vez por ano, nas férias, é que podia divertir-se com a família. No restante do ano era obrigado a enfrentar a dura e estressante rotina da escola.


Ao chegar da longa viagem era recepcionado com o bolinho. O bolinho da vó. Tinha o gosto que somente a avó, com toda sua idade produzia, o gosto da sua infância.


As avós são, geralmente, as melhores cozinheiras do mundo. Mesmo a comida da avó dos outros, que também fazem parte do clã das melhores chefs, jamais é tão boa quanto a da própria avó.


A especialidade de dona Armênia era o bolinho. Sua mãe e as tias também tinham a receita, mas não faziam igual. O bolinho tinha como tempero o afeto da avó por ele.


Mesmo sendo da família e conhecendo a todos ele sempre chegava acanhado. Talvez o fato de vê-los apenas uma vez por ano despertasse sua timidez. Certa vez chegou animado, empolgado. Depois de cumprimentar todos perguntou: “Tem bolinho?”. A tia agachou-se e com um olhar sério disse:


“Eder, a vó não pode mais fazer bolinho”.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Você

Sim. Eu sei. Eu lembro.


Sei que pediu para eu te esquecer, nunca mais ligar, nunca mais mandar e-mail, nunca mais lembrar. Mas não consigo.


Tudo me faz lembrar você. Quando trabalho lembro de você. Na aula lembro de você. Tento fazer outra coisa, para me distrair, e lembro de você.


Fumo você. Malho você. Almoço você. Leio você. Assisto você. Bebo você. Acordo você. Durmo você. Ouço você.


E o pior: quando penso em você sinto uma vontade enorme de pensar em você.


Não consigo esquecer você...você...qual é mesmo seu nome?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Em tempo

“Eu te amo!”.

Disse ela pela primeira vez após terem transado.

Ele era um escroto. Talvez insensível demais, sincero demais, seco demais. Não respondeu nada.

Só queria sexo. Em nome desse sexo não iria mentir. Não diria aquilo só por que ela queria ouvir.

Sentiu-se feliz, mas preocupado. Feliz por ser amado, mas preocupado pelo mesmo motivo. “Era só sexo e agora essa guria tá me amando. Como vou me livrar disso?”.

Se livrar de alguém ou algo que se odeia pode até ser fácil, mas se livrar do que ou quem te/se ama...

A resposta veio apenas um ano depois. Não se livrou. E amou. Amou e disse.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Sonho impossível (?)

Tive um sonho. Um sonho bom. Estávamos saindo de casa para ir a uma festa. Namorávamos e tínhamos uma rotina normal. Tão simples. Parecia verdade.

Um sonho tão possível, tão palpável, exceto pelo fato de não poder-mos namorar. Afinal, não posso largar meu namorado por aquela loucura que nós duas cometemos.

Mas ainda assim, queria que continuasse. Queria que estivéssemos no meu sonho, que se realizasse. Como não dá, queria ao menos que o sonho continuasse. E também não deu. Acordei sorrindo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Os Três Pedidos ou Outro Estágio

Era grossa, estúpida e sádica. Não media esforços alheios para a empresa crescer e dizia que os funcionários deveriam “vestir a camisa”.

Alguns diziam ter dó, que toda maldade era vinda da vida amarga. Era solteira, sozinha e solitária. Não gostava de crianças ou cachorros (e nem de gente). Ainda assim trabalhava justamente com pessoas, supostamente fazendo bem a elas, nem que para isso moesse os funcionários como em uma máquina de carne.

Enquanto o baixo clero deveria estar cedo e a todo vapor no trabalho, chegava diariamente de ressaca. Devia beber muito, tinha muita mágoa para afogar.

Sempre deixava claro que ela quem mandava. Andava pela empresa como um vigia. Ao vê-la todos engoliam palavras, sorrisos e as boas vibrações. Uma nuvem negra parecia a acompanhar.

Apesar disso tinha um discurso de unificação e amizade fora da instituição. Era a principal agitadora de festas, comemorações e afins. Socializando, parecia até simpática. Em seu aniversário fez questão que todos fossem. E lá estavam. Mais por obrigação que por consideração.

Enquanto alguns vinham e iam, Ale, o estagiário mais novo ficava. Sentia-se bem por se enturmar tão rápido.

Sobrou apenas a chefe e ele. Pela fama ele carregava certo medo, mas àquela hora, bêbados, a conversa fluía bem. Ainda assim ele buscava manter a formalidade. Ela não.
- Posso te pedir uma coisa?
- Claro chefe.
- Melhor. Duas e dependendo da resposta mais uma. Pode ser?
- Sim.
- Não me chama de chefe. Me chama de Ma.
- Sim. Claro. Desculpa Ma. E o que mais?
- Me dá um beijo.

Ao terminar de falar ela agarrou o franguinho. Com vontade. Meio tímido foi abraçando-a de leve. Apesar de ter gostado, ficou totalmente sem jeito. Ela agradeceu. Com um sorriso ele respondeu: “Qué isso. Eu que agradeço”.

O beijo quebrou a conversa que levavam. Sem rumo, a cabeça dele dava voltas na busca por um assunto, que parecia ser obrigatório. Quanto mais tempo passava mais sentia a necessidade de falar algo.

Não se tratava de um gênio, mas havia mais um pedido. Perguntou qual era. Sorrindo, ela levou os lábios próximos ao seu ouvido e disse que depois faria.

Beijos, cerveja e conversa se passaram e o bar ia fechando. Como quem não quer nada, garçons colocavam as cadeiras sobre as mesas. A empolgação trazida pela situação e pelo álcool fez com que ela o convidasse a ir até sua casa. Próxima, com cervejas e carona (sabe comé vida de estagiário né!?) a casa da chefe pareceu sedutora, tanto quanto a própria.

Sentaram-se no sofá e as cervejas lubrificavam a longa conversa ideológica. Não querendo parar o diálogo, pois isso poderia significar uma nova falta de assunto, segurou a urina mas não resistiu.
Ao lavar a mão olhou-se no espelho e sussurrou: “Aaaaaah muleke. Cê é foda hein!? Acabou de entrar no trampo e já tá pegando a chefe”.

Na volta não a encontrou na sala. Ela surgiu do corredor trajando apenas uma calcinha branca. Apesar da podridão interna tinha um belo corpo, que se revelava enquanto vinha em sua direção. Olhava-a sem reação. Sentou-se de frente em seu colo e quebrou com beijos a hipnose por ela mesma causada.

Pegou sua mão e o levou para o quarto. Tirou sua roupa. Ela controlava a situação como fosse a primeira vez de um virgem com alguém experiente (e talvez fosse). Com a voz baixa veio o terceiro pedido: “Me bate”.

O favor veio inicialmente com tapas tímidos até ela gritar: “Mais forte!”. Pegou sua mão e fez com que puxasse seu cabelo.

Puxou, bateu, xingou e agora ele quem ditava as ordens, assim como era o desejo dela: inverter os papéis, ser tratada com submissão, como cachorro(a).

No dia seguinte mal conseguia sentar. Estava realizada, mas jamais iria sorrir ou demonstrar isso no trabalho. Um mês depois Ale foi demitido. Nunca mais se viram. Um novo estagiário vem aí.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Ligações

...desligou. Como se desligando fosse adiantar. Desligou por que percebeu que poderia ser verdade. Com a ilusão de que desligando a verdade se tornasse mentira. Desligou como quem bebe para esquecer-se dos problemas, que retornam acompanhados de ressaca.

Apoiou os cotovelos sobre a mesa e se pôs a raciocinar. Seria mesmo possível? Anos de confiança e amizade se foram em 30 segundos. Era possível!

Ligou os pontos de uma maneira tão simples quanto um jogo de crianças feito por um adulto. Mas até então não tinha visto os pontos.

A mulher estava sempre arrumada e também cansada. Não dava mais detalhes e nem desandava a falar como foi seu dia. Não o procurava mais e quando procurada fazia-se foragida.

Marques visitava cada vez mais a sua casa. Ficava cada vez menos no escritório. Tinha um tratamento dentário que nunca terminava. Quando ia à sua casa conversava mais com a mulher do que com o próprio Pita.


Depois que desligou o telefone desconectou-se do mundo. Ligou o automático. Calmamente saiu do trabalho. Os pontos já estavam ligados, mas precisava ir até o final para conferir a resposta.

Não teve pressa. Pegou o carro e foi. Lento, o trânsito não o preocupava. Seguia hipnotizado. Possuía uma arma, mas jamais pensou utilizá-la. Era uma herança. Iria entregá-la na campanha do desarmamento, mas acabou ficando. Poderia ser útil qualquer dia nos dias atuais. Colocou-a do lado da porta com naturalidade, como se depositasse ali um molho de chaves.


Não colocou o som no carro. Acendeu um cigarro e nem fumou. Só percebeu quando estava no final. Mesmo com o raciocínio já concluído, ficava religando os pontos. Religando, religando, religando.

BÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ...

Uma longa e alta buzina o desperta. Olha para o autor do despertar e percebe que o estava fechando.

“Mas é um corno mesmo!” grita o fechado.

Ele atira e o tira do mundo. Desliga-o.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Santa Ceia

Era um simples e inocente jantar com a minha senhora ou ao menos era pra ser. Não era um jantar romântico, era só pra comer mesmo (a comida). Eu acabava de sair faminto da labuta em um domingo de carnaval. Decidimos um lugar qualquer no caminho apenas para não acabar em pizza.

Comíamos, bebíamos e conversávamos de forma distraída. Eu degustava aquele pequeno pastel com bastante gordura, que mais tarde irá interromper minha vida, quando fui interrompido pela minha menina. “Eles estão orando?”.

Sim. Estavam orando. Uma família de cerca de 10 pessoas. Achei aquilo bonito. Sou ateu, mas fiquei realmente admirado. É realmente louvável agradecer pela comida que se tem, levando-se em consideração que muitos não a têm.

Lembrei do amigo e professor Victor Folquening, falecido recentemente. Certa vez, lecionando, disse: “Deus existe sim. Claro que Deus existe. Mas Deus é um cara que não trabalha no atacado, só no varejo! Por que, por exemplo, se tem uma tragédia imensa em que milhares de pessoas morrem e um só se salva, essa pessoa dá uma entrevista dizendo que Deus o salvou. Mas por que Deus não salvou todas aquelas outras pessoas?”. Essa é uma das muitas frases que mostram um pouco como era o Victor.

Fiquei pensando na religião, em especial a católica que conheço um pouco melhor. Acho que foi criada com uma ideia boa. Uma grande ideia. Mas, como quase tudo no mundo, o homem (esse grande filho da puta) estragou tudo.

De certa forma aquela família estava mantendo a boa ideia da religião (seja lá qual for a deles), levando ao público aquela escolha particular eles me deixaram refletindo. Refletindo sobre a religião e a comida.

Dia desses estava vendo uma entrevista com o Poeta Sérgio Vaz no programa Provocações. Antônio Abujamra perguntou ao poeta se as pessoas da periferia eram a favor da liberação do consumo de drogas, ao que poeta responde: “Primeiro eu queria que liberasse o arroz com feijão...depois as drogas mais pesadas: o bife, a salada. Eu queria ver a molecada muito louca de arroz com feijão”.

Ia saindo do restaurante quando a família começou a cantar parabéns. Não prestei a atenção, afinal, pensei que não havia nada demais. Quando ia saindo os ouvi cantando: “É benção, é benção, É benção, é benção, é benção. Eu oro, eu oro, Eu oro, eu oro, eu oro...”.

Cagaram com a poha toda!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Olhos

Ele a dominava. Ela simplesmente consentia, entregando-se com toda sua generosidade. Permitia que ele fizesse tudo que quisesse, mesmo que, na realidade nem a tocasse. O ato sexual ocorria apenas através do olhar.

Ele a devorava por meio da visão. Aquela imagem que chegava até sua retina e era transmitida pelo nervo óptico fazia com que, ao chegar ao cérebro, ele imaginasse situações em que ambos estariam de olhos fechados.

Ela percebeu. Era de certa forma recorrente aquela situação. Fingia não ver e às vezes até fazia poses para que o imaginário masculino fosse cada vez mais longe. Deixava com que olhassem, vissem, observassem, degustassem.

Ele queria ali mesmo beijá-la ferozmente. Arrancar sua roupa e domá-la com muita sede ao órgão. Com tanta vontade quanto um casal que depois de muito tempo volta a colocar seus corpos em encontro. Mas nada sai do imaginário, onde ficaria por muito tempo.

Aparentemente distraída até então, e após dominar aqueles olhos famintos, ela olha para ele com expressão de desprezo e vai embora.

Ele derrama uma lágrima. O gozo de quem come com os olhos.