terça-feira, 29 de março de 2016

Canção do Exílio Curitibana


Minha terra tem pinheiros,
Onde canta o Plá;
Os pombos, que aqui rodeiam,
Gostam muito de cagar.

Nosso céu é mais cinza,
Nossas vagas, menos flores.
Nossos shoppings têm mais vida,
Nossa vida vendedores.

Em andar, sozinho, à noite,
Mais nazis encontro lá;
Minha terra tem preconceitos,
Que dão vontade de chorar.

Minha terra tem bolores,
que não dá pra evitar;
Tem neblina toda noite,
Muita umidade no ar;
Minha casa tem goteiras,
enquanto a chuva não parar.

Não permita deus que eu morra,
Sem a neve eu avistar;
Sem a Avenida das Torres
um dia desengarrafar;
que eu não morra de vergonha,
se me obrigarem a falar.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sobre o futebol

O futebol é um jogo muito complicado. Há dezenas de variáveis, implicações e pode mudar a qualquer momento. “É uma caixinha de surpresas”.

Mas, vou tentar mostrar o pouco que sei do jogo.

Torcedor é a função ocupada pelos apaixonados. Eles carregam bandeira, vestem a camisa, vão ao estádio, gastam dinheiro, instruem os seus filhos a serem como eles, gritam, berram, xingam os rivais e, não raro, matam aqueles elegidos como adversários.

Os adversários são “o outro”. Embora sejam exatamente iguais e estejam na mesma situação, o torcedor não enxerga o outro como seu semelhante. Ele não consegue ver que o outro é alguém que simplesmente fez uma escolha diferente da dele. 

Mas, apesar de agirem como selvagens, os torcedores às vezes também são pessoas normais. Eles têm família, trabalham, levam uma vida social e alguns são até capazes de conversar e manter uma amizade.

O irracionalismo é demonstrado só quando estão no estádio, em meio à massa, sem cara, camuflados. Esse comportamento também pode escapar nas redes sociais. Atrás de um computador, protegido por uma falsa identidade, o torcedor destila o seu ódio e emite opiniões sem o mínimo de informação. Na mesma posição, os seus pares o aplaudem com likes, o que faz o seu ego inflar. Assim, ele continua a falar.

Mas, o futebol é um jogo.

Por isso, em meio a toda selvageria dos torcedores, é preciso haver um lado racional. Quem exerce essa função é o técnico. Essa figura ímpar deve comandar todo o time. Se necessário ele deve, até mesmo, usar o seu racionalismo para controlar a paixão alheia. No entanto, quando um time inteiro não funciona, é o técnico que perde o cargo, mesmo que ele seja o menos culpado pela situação.

No futebol faz sentido: é mais fácil tirar o técnico do que tirar o time todo.

Mas, mesmo que o técnico tenha feito uma proposta concreta para reformular todo o sistema e não tenha sido ouvido é ele que continuará sendo apontado como culpado. As outras forças dentro do clube são capazes de impedi-lo. O técnico não manda em tudo.

Aí vem outro. Esse é colocado como salvador da pátria, quando, na verdade, ele é só um ser humano, com suas qualidades e defeitos, pessoais e profissionais. Há um resultado de curto prazo. Afinal, os jogadores querem demonstrar vontade ao novo chefe e o fazem de maneira espantosa, fazendo com que o valor do seu passe aumente. Mas, com o passar do tempo, o técnico novo vai ficando velho e se percebe que ele não era um herói. É quando os jogadores começam a fazer corpo mole para querer tirá-lo e os torcedores vão no embalo, gritando palavras de ordem e querendo até mesmo que volte um técnico de muito tempo atrás, que tinha métodos bastante arcaicos e nem mesmo permitia torcedores no estádio.

Sem ter o que fazer, o técnico tenta dizer coisas importantes: “mas gente, a culpa não é minha. Vocês que me colocaram nessa posição de Deus e eu não sou Deus. Não tenho como solucionar tudo, quem controla são os jogadores, eles vão a campo, eles atuam em todas as posições, eles são os donos da bola, não eu”. Mas ninguém o ouve mais. A sua fala é abafada pelos gritos. A paixão se sobrepõe à razão.

Vem aí o novo paladino e estão achando que tudo vai mudar.

Se for começo de temporada é possível reformular o time, mas tudo depende da diretoria. Ela sim tem o poder. É a responsável por demitir, contratar e renovar o elenco (ou não).

Mas, é também na diretoria em que se dão a maioria dos casos de corrupção, mas lá todo mundo acha normal.

E segue o jogo.