domingo, 21 de setembro de 2008

Ironia e sinceridade

- Olá tudo bem? Meu nome é Jeferson e o seu?
- O meu nome é Amanda, mas pode me chamar de mandinha.
- Oi mandinha, prazer.
- O prazer é todo meu.
- Amanda, alguém já lhe falou que você é muito bonita?
- Já sim. Quase sempre falam isso.
- E alguém já falou que você é muito gostosa?
- Não. Ninguém nunca disse.
- Então eu vou dizer. Amanda, você é muito gostosa. Talvez a guria mais gostosa que eu já vi.
- Jeferson, você acha que isso não seria algo muito indelicado para falar a uma pessoa que você acabou de conhecer?
- Acho sim. Aliás, tenho certeza. Mas eu tô sendo sincero. Eu podia chegar pra você e dizer: “Sabia que você é muito bonita?” e aí você ia dizer: “Sabia sim, todo mundo fala isso pra mim”, mas na verdade você queria dizer “Você é só mais um seu babaca”. Mas eu não estaria falando o que realmente queria. E o que queria falar é isso que eu disse. E não há como você negar....o meu diálogo com você já foi mais longo do que se tivesse dito o que todos dizem.
- É...você tem razão.
- Viu. Já ganhei um ponto.
- Hey, não ganhou nada não. Eu não disse nada.
- Ganhei sim. Já ganhei a sua atenção.
- É você tem razão.
- Viu. Você já me deu razão duas vezes e uma outra vez que você omitiu.
- Omiti?
- Omitiu sim. Você não concordou quando eu disse que você era muito gostosa.
- É. Tem razão. Eu omiti.
- Ah, pare de enrolar. Assuma. Diga: “eu sei que eu sô gostosa”.
- Olha aqui menino. Eu até posso ser isso que você disse, mas não sou convencida.
- Mas isso não é ser convencida. É ser sincera.
- Quem é você pra falar de sinceridade?
- Eu sou a única pessoa que conversou com você e foi sincero nas primeiras frases que a direcionou.
- Sabe que você tem razão de novo.
- É. Eu sei. Mas agora diga. Diga assim: “eu sei que eu sou muito gostosa, mas você não viu nada ainda.”
- Não vou dizer isso. Pelo menos não agora.
- Ah então você pode dizer daqui há algumas cervejas.
- Posso sim.
- Então vamos tomar uma cerveja pra ver se consigo transar com você.
- Você é tão romântico.
- Está sendo irônica?
- Não. Você ainda não viu nada.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Hip-hop de luto



Na noite de hoje o hip-hop de Curitiba esteve reunido em peso. B. Boys, Dj’s, Graffiteiros, MC’s e simpatizantes enfrentaram mais uma noite fria pelo hip-hop. Mas infelizmente, a reunião não se devia a nenhuma festa. A reunião era para o velório do DJ Primo. Aquele que muitas vezes fez o hip-hop de Curitiba estampar um sorriso no rosto quando tocava seus beats, dessa vez deixou todos os amigos, conhecidos e simpatizantes com os olhos cheios de lágrima.
Dessa vez ninguém queria ir à pista onde ele estava, e procuravam ao máximo possível adiar a dor de ver que a alegria e a força do Primo vão estar em outro lugar. Magicamente, a alegria que carregava consigo pra todos os cantos virava uma música alegre. A mesma música tocada por outra pessoa não tinha a mesma vibração positiva. Ele mesmo dizia que “o que você ta sentindo dentro de você passa pela agulha e sai pela caixa de som”. Por essa razão, quando estava meio mal ele nem queria tocar.
Essa alegria que irradiava saiu de Curitiba pra tocar o mundo. Em 1997, com 17 anos de idade, o DJ Primo era o Alexandre Muzzillo Lopes, balconista da Spin. Quando o movimento tava baixo na loja ele sacava a pick-up debaixo do balcão e fazia os seus primeiros riscos. Da Spin ele passou para as pistas do Brasil inteiro, e do grupo Blackout passou a tocar com Marcelo D2, Lyrics Born, Hieroglyphics, Mamelo Soundsystem, Max B.O., Otto e até com o lendário Afrika Bambaataa.
Na madrugada dessa segunda-feira, tava assistindo filme quando sentiu umas dores no peito e resolveu ir ao hospital. Foi primeiro a um hospital e as dores continuaram. Foi para outro hospital, dando risada, como sempre, aguardou o atendimento por uma hora aproximadamente. Quando deitou na maca teve um ataque cardíaco. Foi reanimado e teve outro ataque, que o levou, junto com as suas 4 pick-ups pra tocar em um lugar melhor.
Ele era novo, 28 anos, mas por aqui fez tudo que quis. O que desejava sempre conquistou. Olhando uns recortes de jornal, encontrei uma matéria antiga de uma entrevista com o Primo e na última pergunta ele diz: “Fui por mim, era meu sonho ser DJ, ter toca-disco, e desde o momento em que tive isto na minha mão desfrutei ao máximo. A gente vai evoluindo até não poder mais tocar. O negócio não tem limite”. É isso aí Primo. Aqui você ultrapassou limites, agora o Bum Bap continua lá em cima.

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O show do Kamau na semana que vem, em que o Primo estaria, continua de pé. O show vai ser um tributo ao Primo.