quarta-feira, 29 de abril de 2009

Graça, sentimento e cérebro

por Verônica Medeiros*

A vida é mesmo muito engraçada. É interessante perceber como os caminhos do coração tomam rumos inimagináveis e incompreensíveis. Mais curiosa ainda é a relação homem-mulher. Animais racionais que se tornam completamente irracionais quando o assunto é amor/paixão/obsessão.
Qual é a dificuldade de um amor ser seguro e intenso do primeiro beijo até o primeiro ano de namoro? O problema é a carência crônica da mulher e a paciência limitada do homem. Tpm, que TORMENTO pré-menstrual é esse? Que é capaz de mexer com uma mulher a ponto de levá-la do céu ao inferno em segundos, de fazê-la chorar ou se conformar detonando uma barra de chocolate, de ser a melhor saída para aquele momento ‘trágico’ e, logo depois, sentir-se uma gorda-ansiosa-compulsiva por causa daquele mesmo chocolate. Os homens fazem parte do time inteligente da relação. Racionais versus passionais. Entendem que a tpm é uma ‘fase’ chata e que complica a vida de todas as mulheres – das mais seguras até as mais neuróticas -, mas não conseguem suportar as reclamações clichês de “você não me dá atenção”, “você ainda me ama?”, que surgem nessa mesma fase chata da vida da mulher.
Complicado tentar entender as cabeças desses seres tão diferentes, mas tão interligados. Livros que pontuam exatamente o que homens e mulheres pensam não estão com nada. Todas as mulheres são inteligentes o suficiente para discernir o certo do errado, o triste do feliz, o bom do ruim. Todos os homens conseguem distinguir a louca da ciumenta, a obcecada da apaixonada, a certa da errada e, principalmente, que todas as mulheres, no fundo, são iguais. Existem as descaradas, as discretas, as solteiras, as comprometidas, as que já fizeram, as que ainda vão fazer, as que não repetem os mesmos erros, as que aprendem, as que não aprendem. No fundo, toda mulher é, simplesmente, mulher.
Por isso, acreditar que fulana nunca faria isso ou aquilo, porque parece ser uma ‘boa’ menina, é lenda. Mesmo as ‘boas, inocentes e ingênuas’ meninas são capazes de cometer erros e loucuras quando se apaixonam. Todas, absolutamente todas as mulheres sabem como e o que fazer para conquistar ou desvirtuar o caminho de um homem.
A vida é, realmente, muito engraçada. Os relacionamentos, então, uma grande piada.


*Verônica Medeiros é jornalista e amiguinha buni do dono deste blog.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mas... (final alternativo)

Ele não sabe se arrisca ou deixa para a próxima vez.
Mas e se não tiver próxima vez? Melhor arriscar.
Mas e se tomar um tapa na cara? Melhor não arriscar.
Mas e se ela não estiver tão bêbada no próximo encontro e perceber a grande burrada que cometeu? Melhor arriscar.
Mas e se ela estiver afim de algo mais sério e ele jogar fora as chances? Melhor não arriscar.
Mas...ah, que mulher aceita dormir na casa do homem e não vai querer nada? Melhor arriscar.
Mas ela se fez tanto de difícil até agora. Melhor não arriscar.
A dúvida povoa sua cabeça, ou melhor, suas cabeças. Ele não sabe com qual delas pensar. A vontade de arriscar a aproximação é grande, levando-se em consideração o tempo em que estava na seca. Se conseguisse seria maravilhoso. Ele queria e até certo ponto precisava daquilo. Seria a conclusão do ato a que ele se dispôs quando decidiu conversar com ela. Foi a primeira coisa que pensou quando a viu dançando. Aquele quadril balançando na pista, mesmo entre muitos outros foi o daquela moça que o chamou mais a atenção. E agora o seu sonho de consumo (ao menos naquela noite) estava ali, só ele, há poucos palmos de distância. Mas...
Por outro lado, percebeu que ela não era apenas um sonho de consumo noturno. Aquela menina era especial. Ela era realmente interessante, não só fisicamente. Ela era inteligente. Era simpática. Seria até um pecado usá-la daquele jeito. Ela não era daquelas para uma noite e nada mais. Valia a pena um investimento. E uma tentativa falha poderia jogar por água abaixo tudo o que poderia acontecer no futuro. Mas...
Mas ele resolveu seguir a filosofia que vinha seguindo nos últimos meses: a filosofia do foda-se. Influenciado pelo álcool ele decide arriscar. Arriscar não, conseguir. Estava realmente decidido.
Ele se aproxima e a abraça. Ela se aconchega em seus braços, isso serve de grande estímulo. Ele segue em frente seu plano. Dá um beijo atrás da orelha. Ela dá um sorriso safado. O aval foi cedido. Mão por baixo da blusa. Barriguinha. Seios. Faz uma longa prévia até que resolve colocar a mão por dentro das calças. Seguindo o caminho indicado pelos pêlos que partiam do umbigo chegou aos pêlos pubianos. Devarinho. Quando estava quase chegando lá a voz que até então era delicada se torna grossa e exclama:
- Tira a mão daê rapá.

Mas... (versão original*)

Ele não sabe se arrisca ou deixa para a próxima vez.
Mas e se não tiver próxima vez? Melhor arriscar.
Mas e se tomar um tapa na cara? Melhor não arriscar.
Mas e se ela não estiver tão bêbada no próximo encontro e perceber a grande burrada que cometeu? Melhor arriscar.
Mas e se ela estiver afim de algo mais sério e ele jogar fora as chances? Melhor não arriscar.
Mas...ah, que mulher aceita dormir na casa do homem e não vai querer nada? Melhor arriscar.
Mas ela se fez tanto de difícil até agora. Melhor não arriscar.
A dúvida povoa sua cabeça, ou melhor, suas cabeças. Ele não sabe com qual delas pensar. A vontade de arriscar a aproximação é grande, levando-se em consideração o tempo em que estava na seca. Se conseguisse seria maravilhoso. Ele queria e até certo ponto precisava daquilo. Seria a conclusão do ato a que se dispôs quando decidiu conversar com ela. Foi a primeira coisa que pensou quando a viu dançando. Aquele quadril balançando na pista, mesmo entre muitos outros foi o daquela moça que o chamou mais a atenção. E agora o seu sonho de consumo (ao menos naquela noite) estava ali, só ele, há poucos palmos de distância. Mas...
Por outro lado, percebeu que ela não era apenas um sonho de consumo noturno. Aquela menina era especial. Ela era realmente interessante, não só fisicamente. Ela era inteligente. Era simpática. Seria até um pecado usá-la daquele jeito. Ela não era daquelas para uma noite e nada mais. Valia a pena um investimento. E uma tentativa falha poderia jogar por água abaixo tudo o que poderia acontecer no futuro. Mas...
Mas..., mas..., mas..., qualquer pensamento terminava com um “mas”. Ele precisava decidir antes que amanhecesse e tivesse que ir trabalhar.
Ele pensa, pensa, pensa, pensa, pensa e...cai no sono.

* Amanhã será publicada outra versão do texto, com final diferente.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cigarro Curitibano

Comprei um solto (to tentando parar) e fui até a praça pra fumar. Fiquei olhando as pessoas procurando alguém que estivesse fumando. Um senhor mal encarado. Um casal. Um cara sujo, mas bem vestido. Uma menina falando ao telefone. E finalmente um carrinheiro fumante. Peço o isqueiro emprestado. Acendo e seguindo a regra de todos os outros curitibanos dali sento em um banco sozinho.
Fumo devagar, curtindo. Enquanto observo a praça e as pessoas fico pensando na vida, na mina e na peça que acabo de perder por chegar atrasado. A noite não estava fria, tinha uma brisa, mas tava maneira.
O cigarro estava chegando ao fim, na terceirinha, como chamava-mos na cadeia, quando o cara sujo mas bem vestido levanta-se. Antes de seguir seu rumo me olha e volta. Eu já sabia o que ele iria pedir.
- Tem um cigarro aí!?
- Puts cara. Pior que não tenho. Comprei esse aqui só. Foi mal.
Ele abaixa a cabeça como quem dá um breve cumprimento e sai. Achei estranho aquele cara. Ele não era um morador de rua. Estava bem vestido de acordo com os padrões da sociedade, mas estava sujo. E não era sujeira de trabalho, era sujeira da rua. Mas não era um morador de rua (aparentemente). Ele tomava uma garrafa de refrigerante (e aparentemente era mesmo refrigerante). Meu instinto de jornalista (parecido com o do Peter Parker) me diz que preciso averiguar. Resolvo chamá-lo.
- Hey.
Ele olha e levanta rapidamente a cabeça como quem diz “que quê foi?”.
- Chegaí.
Desconfiado ele vem até mim.
- Sentaí, vamo troca uma idéia.
Ainda ressabiado ele senta.
- Cê mora onde?
- Tô dormindo numa marquise ali perto do Passeio Público.
- Mas faz tempo que cê mora ali?
- Duas semanas.
- E antes? Morava onde?
- Lá no Sitio Cercado.
- E por que ta ali agora?
- Perdi o emprego e não tive grana pra pagar o aluguel, que já tava atrasado. Agora tô aí na rua.
- Pode crê.
- ...
- ...
- Crise né!?

- Pior que é.
- ...
- ...
- ...
- Tem um cigarro aê?
- Puts cara. Pior que não tenho. Comprei só um. Foi mal.
E foi-se embora.