segunda-feira, 26 de março de 2012

Sonho impossível (?)

Tive um sonho. Um sonho bom. Estávamos saindo de casa para ir a uma festa. Namorávamos e tínhamos uma rotina normal. Tão simples. Parecia verdade.

Um sonho tão possível, tão palpável, exceto pelo fato de não poder-mos namorar. Afinal, não posso largar meu namorado por aquela loucura que nós duas cometemos.

Mas ainda assim, queria que continuasse. Queria que estivéssemos no meu sonho, que se realizasse. Como não dá, queria ao menos que o sonho continuasse. E também não deu. Acordei sorrindo.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Os Três Pedidos ou Outro Estágio

Era grossa, estúpida e sádica. Não media esforços alheios para a empresa crescer e dizia que os funcionários deveriam “vestir a camisa”.

Alguns diziam ter dó, que toda maldade era vinda da vida amarga. Era solteira, sozinha e solitária. Não gostava de crianças ou cachorros (e nem de gente). Ainda assim trabalhava justamente com pessoas, supostamente fazendo bem a elas, nem que para isso moesse os funcionários como em uma máquina de carne.

Enquanto o baixo clero deveria estar cedo e a todo vapor no trabalho, chegava diariamente de ressaca. Devia beber muito, tinha muita mágoa para afogar.

Sempre deixava claro que ela quem mandava. Andava pela empresa como um vigia. Ao vê-la todos engoliam palavras, sorrisos e as boas vibrações. Uma nuvem negra parecia a acompanhar.

Apesar disso tinha um discurso de unificação e amizade fora da instituição. Era a principal agitadora de festas, comemorações e afins. Socializando, parecia até simpática. Em seu aniversário fez questão que todos fossem. E lá estavam. Mais por obrigação que por consideração.

Enquanto alguns vinham e iam, Ale, o estagiário mais novo ficava. Sentia-se bem por se enturmar tão rápido.

Sobrou apenas a chefe e ele. Pela fama ele carregava certo medo, mas àquela hora, bêbados, a conversa fluía bem. Ainda assim ele buscava manter a formalidade. Ela não.
- Posso te pedir uma coisa?
- Claro chefe.
- Melhor. Duas e dependendo da resposta mais uma. Pode ser?
- Sim.
- Não me chama de chefe. Me chama de Ma.
- Sim. Claro. Desculpa Ma. E o que mais?
- Me dá um beijo.

Ao terminar de falar ela agarrou o franguinho. Com vontade. Meio tímido foi abraçando-a de leve. Apesar de ter gostado, ficou totalmente sem jeito. Ela agradeceu. Com um sorriso ele respondeu: “Qué isso. Eu que agradeço”.

O beijo quebrou a conversa que levavam. Sem rumo, a cabeça dele dava voltas na busca por um assunto, que parecia ser obrigatório. Quanto mais tempo passava mais sentia a necessidade de falar algo.

Não se tratava de um gênio, mas havia mais um pedido. Perguntou qual era. Sorrindo, ela levou os lábios próximos ao seu ouvido e disse que depois faria.

Beijos, cerveja e conversa se passaram e o bar ia fechando. Como quem não quer nada, garçons colocavam as cadeiras sobre as mesas. A empolgação trazida pela situação e pelo álcool fez com que ela o convidasse a ir até sua casa. Próxima, com cervejas e carona (sabe comé vida de estagiário né!?) a casa da chefe pareceu sedutora, tanto quanto a própria.

Sentaram-se no sofá e as cervejas lubrificavam a longa conversa ideológica. Não querendo parar o diálogo, pois isso poderia significar uma nova falta de assunto, segurou a urina mas não resistiu.
Ao lavar a mão olhou-se no espelho e sussurrou: “Aaaaaah muleke. Cê é foda hein!? Acabou de entrar no trampo e já tá pegando a chefe”.

Na volta não a encontrou na sala. Ela surgiu do corredor trajando apenas uma calcinha branca. Apesar da podridão interna tinha um belo corpo, que se revelava enquanto vinha em sua direção. Olhava-a sem reação. Sentou-se de frente em seu colo e quebrou com beijos a hipnose por ela mesma causada.

Pegou sua mão e o levou para o quarto. Tirou sua roupa. Ela controlava a situação como fosse a primeira vez de um virgem com alguém experiente (e talvez fosse). Com a voz baixa veio o terceiro pedido: “Me bate”.

O favor veio inicialmente com tapas tímidos até ela gritar: “Mais forte!”. Pegou sua mão e fez com que puxasse seu cabelo.

Puxou, bateu, xingou e agora ele quem ditava as ordens, assim como era o desejo dela: inverter os papéis, ser tratada com submissão, como cachorro(a).

No dia seguinte mal conseguia sentar. Estava realizada, mas jamais iria sorrir ou demonstrar isso no trabalho. Um mês depois Ale foi demitido. Nunca mais se viram. Um novo estagiário vem aí.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Ligações

...desligou. Como se desligando fosse adiantar. Desligou por que percebeu que poderia ser verdade. Com a ilusão de que desligando a verdade se tornasse mentira. Desligou como quem bebe para esquecer-se dos problemas, que retornam acompanhados de ressaca.

Apoiou os cotovelos sobre a mesa e se pôs a raciocinar. Seria mesmo possível? Anos de confiança e amizade se foram em 30 segundos. Era possível!

Ligou os pontos de uma maneira tão simples quanto um jogo de crianças feito por um adulto. Mas até então não tinha visto os pontos.

A mulher estava sempre arrumada e também cansada. Não dava mais detalhes e nem desandava a falar como foi seu dia. Não o procurava mais e quando procurada fazia-se foragida.

Marques visitava cada vez mais a sua casa. Ficava cada vez menos no escritório. Tinha um tratamento dentário que nunca terminava. Quando ia à sua casa conversava mais com a mulher do que com o próprio Pita.


Depois que desligou o telefone desconectou-se do mundo. Ligou o automático. Calmamente saiu do trabalho. Os pontos já estavam ligados, mas precisava ir até o final para conferir a resposta.

Não teve pressa. Pegou o carro e foi. Lento, o trânsito não o preocupava. Seguia hipnotizado. Possuía uma arma, mas jamais pensou utilizá-la. Era uma herança. Iria entregá-la na campanha do desarmamento, mas acabou ficando. Poderia ser útil qualquer dia nos dias atuais. Colocou-a do lado da porta com naturalidade, como se depositasse ali um molho de chaves.


Não colocou o som no carro. Acendeu um cigarro e nem fumou. Só percebeu quando estava no final. Mesmo com o raciocínio já concluído, ficava religando os pontos. Religando, religando, religando.

BÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ...

Uma longa e alta buzina o desperta. Olha para o autor do despertar e percebe que o estava fechando.

“Mas é um corno mesmo!” grita o fechado.

Ele atira e o tira do mundo. Desliga-o.