segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Quase Flerte - Por Alexandre Fernandes

Ele não queria estar ali. Era dia de jogo da Portuguesa
Ela sim. Nem ligava muito para futebol.
Ele não se sentia a vontade.
Ela estava à vontade.
Ele bebia cerveja.
Ela caipirinha.
Ele a percebeu primeiro.
Ela não demorou muito e percebeu que ele estava olhando.
Ele ficou sem jeito.
Ela percebeu isso também.
Ele tentou disfarçar.
Ela sorriu.
Ele sorriu e improvisou um brinde à distância.
Ela convida para uma conversa.
Ele foi ao seu encontro.
Nesse meio tempo começa a tocar a música do "tchetcherere tche tche".
Ela olha para a amiga e diz "Adoro essa música".
Ele ouve o que ela disse e desvia o caminho.
Ela não entende.
Ele não suporta aquela música.
Nunca mais se viram.

Fim

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Nessa semana o Di-Vagá recebe a colaboração ilustre do grande Alexandre Fernandes, O Kibe (@alexxfernandes).

Kibe é sócio-fundador do extinto blog Dois Copos, que de certa forma me levou a criar o Di-Vagá. Atualmente o Sr. Fernandes é um dos responsáveis pelo site http://www.allejo.com.br

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O amor é mudo

Olhavam-se todo momento. Alguns segundos chegavam a se olhar fixamente até que um dos dois desviava o olhar. Ela se levantou e antes de partir deixou um papel com seu nome e telefone.

Quando ela se aproximava a vergonha e o nervosismo também vinham. Ele ficou feliz pela atitude dela e em partes, também ficou feliz por ela não ter dito nada. Na mesma noite mandou uma mensagem, que ela respondeu de bate-pronto. Desenrolaram uma longa conversa por mensagem por toda a noite.

Pelas redes sociais conheceram-se um pouco melhor (ou ao menos as aparências que ambos buscavam passar). Conversavam frequentemente pela internet.

Passaram a ter um romance. Muitas mensagens de amor de ambos os lados. Estavam realmente apaixonados. Havia confiança e um quê de inocência naquele amor em tempos de internet. Comprometeram-se tendo se visto apenas uma vez e jamais conversado, mas o namoro virtual havia de se tornar carnal. A hora foi marcada na casa dela.

Cumprimentaram-se aos beijos e logo deixaram transbordar todo amor represado, transmitido até então por meio de cabos.

Beijando-se foram para o quarto e lá concretizaram o que ambos desejavam.

Nenhuma palavra.

Assim a menina fanha e o garoto gago conheceram o amor que nunca tinham tido.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O juiz supremo

Era bela. Tinha um olhar inocente, rosto jovial, uma boca pequenina e um corpo que parecia desenhado por cirurgiões plásticos, mas era cria apenas da natureza humana (e lapidada na academia). Sem dúvida alguma era muito bela. Mas seu caráter era o de uma bela de uma filha da puta.

Sua principal “virtude” era a falsidade. Conseguia negar com seu doce olhar e a expressão de um desenho animado dos mais meigos aquilo que todos sabiam ser uma trapaça. Fazia-o com a naturalidade de quem peida ao estar sozinho. E convencia. Fazia-se de inocente e por vezes fingia estar ofendida, virando o jogo.

Seu corpo era instrumento de manipulação. Seduzia a quem pudesse ser seduzido fisicamente para que fizesse algo em seu benefício.

A simpatia era outra de suas formas de conquista. Sorria para todos. Fingia dar atenção e carinho. Ao conquistar algo dava apenas as costas.

A boca era sua principal arma. Por trás acontecia sua trama. Jogava um contra outro enquanto no meio de campo se sobressaia. Pela frente dava apenas elogios, fazendo seu ilusionismo. Na distância a doce língua transformava-se em metralhadora.

Não bebia e não usava drogas. Só os fazia quando estava acompanhada unicamente do namorado, igualmente falso. Saia bastante, quase todos os dias. Concentrada na armação deixava que os outros bebessem e aí, maleáveis, convencia-os.

Passava dias e noites tentando alcançar o topo, utilizando seres humanos e suas frágeis humanidades como escada.

Mas ao final da noite, mesmo exausta por tanta tramóia, não conseguia dormir. Era a hora da ação do juiz supremo: o travesseiro.