terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Amigo secreto

Queria abrir rápido o bilhete. Abrir logo. Ver o nome de Maria Alice e acabar com aquela agonia provocada por ele mesmo. Ou não. Ver outro nome e ficar definitivamente com sua decepção. Mas nem pensava nisso, apesar de chance ser real, real e grande. Mas para ele era só Maria Alice. Era como estivessem fazendo amigo secreto só ele e ela.
Olhou para ela. Pensou nela com aquele sorriso, que mesmo sem o segundo pré molar superior era encantador. Ao menos para ele. Ele sabia que seus amigos não tinham a mesma opinião. Sempre que o assunto era “quem é a menina mais bonita da sala?” seus amigos apontavam Rosângela. Ele concordava, também dizia ser Rosângela, mas no seu íntimo, que preferia manter consigo, Maria Alice era a mais bonita da sala. Da sala, de todas as quintas séries e de todo o colégio. E de todo o mundo, afinal para ele o colégio e o mundo eram a mesma coisa.
Abriu devagarzinho, com as duas mãos próximas ao rosto. Viu a primeira letra, que era A. Os ombros, que estavam levantados repentinamente caíram com sua decepção. Depois disso abriu rapidamente. Leu e sorriu. Não estava escrito Maria Alice, como previa, mas apenas Alice. Olhou para ela novamente. Ela cochichava no ouvido das amigas quem havia pego no amigo “secreto”. Elas davam risadinha. Imaginou as amigas dando risinhos quando ela disse que também o havia pego. Mas será que elas estão rindo de maneira positiva ou negativa? Deixou pra lá. Não importavam as amigas. O que importava é que ele havia a pego e ela o pego.
No mesmo dia foi calado até o ponto de ônibus. Mesmo com os amigos fazendo algazarra ele nada dizia. Calado, com o pensamento longe. O pensamento já tinha ido embora, junto com Maria Alice e sua van escolar enquanto ele caminhava até o distante ponto de ônibus.
Ao anoitecer deitou-se na cama com um sorriso no rosto. As mãos atrás da cabeça e os olhos direcionados ao teto desenhando a imagem dele entregando o presente. Ela o abraça. E depois ela revela o seu amigo secreto. E um novo abraço. O ano já estava terminando. Ficariam sem se ver até a volta às aulas e naquele período lembrariam um do outro por meio dos presentes.
Presentes? É verdade. Ainda não havia pensado o que compraria. No outro dia iria até a lojinha de R$ 1,99 para ver o que daria. Iria insistir para que a mãe lhe desse mais dinheiro para poder comprar algo até mais caro que o preço máximo: R$ 4,99. Se fosse daqueles que comprasse lanche no recreio iria guardar dinheiro. Mas como comia todos os dias o lanche dado pela escola, com prato, colher e xícara de plástico azul da fundepar, continuou comendo do mesmo jeito.
No outro dia até deixou o desenho de lado para ir para a lojinha. Passou quase a manhã inteira vendo tudo o que tinha. A cada coisa que olhava imaginava-se presenteando Maria Alice. Acabou saindo de lá saiu sem saber o que daria. Queria dar tudo se pudesse.
No almoço contou para o pai e a mãe que tinha tirado Maria Alice e precisava comprar um presente. Pediu dinheiro, mas nenhum lhe deu. Disseram que até lá resolveriam.
O esperado dia chegou e se resolveram algo não o disseram. Acordou cedo. Era só pegar dinheiro com a mãe e iria até a loja. Perguntou a mãe se havia esquecido. Ela havia esquecido, mas não lhe disse. Disse que já havia comprado um presente. Na verdade era uma bugiganga que nunca usou. Foi até o armário e pegou um porta jóia. Colocou numa caixa, pegou um papel de presente embaixo do colchão e embrulhou.
O presente não era feio, mas ele queria ter comprado. Escolhido pensando em Maria Alice. Mas sabia que ela iria gostar, mesmo não tendo nenhuma jóia para guardar.
Ele já quis ser o primeiro. Queria os abraços e sorrisos de Maria Alice o quanto antes. Quem sabe ganhasse até um beijo. Fez sua descrição e veio o primeiro abraço. O sorriso também. Ela sorriu mesmo ele acreditando que o presente poderia ter sido comprado por ele e por meio do presente demonstraria que gostava dela. Isso não ocorreu, mas o sorriso veio, aquele sorriso vago (dentalmente) e encantado.
E veio a vez dela. Se a professora não mandasse ele nem sentaria, tamanha era a certeza de que ela também o tinha pego.
Estufou o peito e começou a descrição dele. O peito, o ego e seu coração de menino se murcharam quando percebeu que a descrição não era sua, mas de Xico. Aquele que era considerado pelas meninas o mais bonito da sala. E em Xico ela deu um beijo.
Ele ficou chateado e mais murcho ainda. O principal presente seria o beijo, mas se o presente desejado não veio a solução seria aguardar o outro presente. E fico aguardando. Aguardando até o final, quando descobriu que quem o pegou foi Eduardo, que faltou.
Voltou para casa sem beijo e sem presente nem de consolo.

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Peço perdão pela última vez no ano aos poucos mas fiéis leitores por ficar tanto tempo sem escrever.
Aproveito o espaço cedido por mim mesmo para divulgar outros trabalhos:

Matérias publicadas na última revista do Crea-PR:
Cidades Conectadas

Um tripé para o futuro

Coberturas para o site Rap Nacional:
Festival Multicultural na Cidade Zero Grau

Rael da Rima e Will Cafuso lançam CD e EP em Curitiba

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ladra de amigos

Era dia de celebração. Celebração da nossa amizade. Churrasco no parque com todo mundo junto pro aniversário do Caíque.
Tinha de tudo. Cerveja pra quem é de cerveja, vinho pra quem é de vinho, vodka pra quem é de vodka e até refrigerante pra quem é de refrigerante (ou seja, o filhinho do Marlon). Faltava apenas uma coisa, ou melhor, faltava apenas alguém, o Rick.
Ué, mas até o Régis ta aqui, como o Rick não tá? Eram daqueles que viviam juntos. Pergunto pra ele e recebo resposta negativa. Ninguém sabia onde estava.
Enfim...vamos curtir com quem tá aqui. A vida segue né, apesar de que se estiver faltando alguém o churras não é o mesmo.
De repente vejo um cara parecido com o Rick vindo ao longe, mas não era ele, por que estava com uma menina. Ele era um cara que jamais iria namorar. Era um pregador fiel da solteirice e sexo apenas por prazer, sem poha nenhuma de sentimentos. O tal cara se aproxima e confirmo, ele é ele. E quem será aquela menina? Ah, deve ser o peguinha desse final de semana.
Chega empolgado, com um largo sorriso. Dá um abraço apertado no primeiro que encontra. Depois de cumprimentá-lo apresenta a garota: olha, essa é minha namorada.
Por alguns milésimos todos param o que estão fazendo e aquela frase remexe nas entranhas de cada um. Passado o choque todos voltam ao que estavam fazendo, tentando agir naturalmente.
Mas aquilo não era nada natural. O Rick sabe, eu sei, todo mundo sabe e o Rick sabe que todo mundo sabe. Quando vem até mim cumprimento-o como amigos que não se vem há tempos. Comprimento a garota também, tentando ser simpático. Ela não demonstra o mesmo.
No decorrer do churrasco todos tentam puxar conversa com a tal da menina. Mas não adianta. Só com o Rick ela troca mais de seis palavras. Isso gera um espanto ainda maior em todos. O Rick ter uma namorada por mais de uma semana era uma raridade, ou melhor, o Rick comer a mesma menina por mais de uma semana era algo impensável até então.
Namorando! Foi isso que ele disse. Namorando! O Ricardo namorando. E o pior de tudo é que era uma guria daquele jeito. Toda metida, sem conversar com ninguém. Nem ele conversava com alguém além dela. Às 5h (da tarde) ele me estende mão. Estranho, mas retribuo. Ele diz “falô”. Aí é que penso, “caraí, neguin mudou mesmo”. Ele que costumava ser o primeiro a chegar e o último a sair. Não arredava o pé até que acabasse a última gota d’álcool ou alguém chamasse a polícia.
Tá. Tudo bem. Compreensível. Um dia a gente muda né, mas ninguém tava preparado pra uma mudança tão repentina. Ainda mais com uma menina daquelas.
Passadas algumas semanas ele levou-a ao bar. Agora ela falou um pouco mais, mas do jeito dela. Intrometida. Arrogante. Falava com ares de dona da verdade. Tentava impor sua opinião. Quando estávamos quase pedindo a conta ela diz “calmaê, tem mais uma rodada que eu vou pagar”. O Rick tentou convencê-la do contrário, argumentando que todo mundo ali estava rachando e o dinheiro contado da rapaziada não dava pra mais nada. Incisiva e pausadamente ela diz “Ricardo, eu vou pagar”.
Não sei por que, mas todos começaram a gostar dela. Assim decorreu um ano. Ela pagando cerveja, tirando o Rick do nosso convívio, chamando para as festas na sua casa com piscina, na sua casa na praia, na casa de chácara, na casa do car...linhos ela ia também, na casa de todos estava presente.
Conseguiu ser aceita. Acabamos nos conformando com o fato de o Rick ter virado uma pessoa totalmente diferente. Dado algum tempo terminaram. A cada vez que terminavam nós comemorávamos, mas eles sempre voltavam. Mas dessa vez era de verdade. Tínhamos uma certeza: o Rick continuaria sendo nosso amigo como sempre foi. Mas ela não. Ela não tinha nada a ver com a rapaziada. Outras ideias, outro padrão, tudo outro. Fútil, arrogante... Seria até difícil encontrá-la.
Para minha surpresa após o rompimento logo eu a encontrei. Não sei ao certo o que ela estava fazendo ali. Não era do feitio das pessoas como ela freqüentar locais como aquele. Eu estava com uma galera diferente da que ela conhecia e ela com algumas amigas, que por muito tempo acreditei não existirem. Era difícil alguém ser amigo dela.
Começamos a conversar mesmo eu tentando fingir que não a vi. A pauta do diálogo era impossível não ser o Rick. Creio que era a única coisa que tínhamos em comum. Dedicamos-nos muito tempo a filosofar sobre ele(s). Enquanto isso ela pagava cerveja. O papo até que tava legal, com ela pagando cerveja ali eu podia conversar a noite inteira. Paramos de falar sobre o Rick. Ficamos uns instantes sem assunto quando ela disse “Ah, vamos deixar o Ricardo pra lá. Vem prá cá o que o que é que tem? O que importa agora é que eu tô solteira. E você Beto, tá namorando?”. Percebi algo diferente naquele papo. Disse que também estava solteiro. Ela sem mais nem menos, acho que devido ao álcool, falou “sabe Beto, sempre tive uma pira em você. Não ta a fim de ir lá pra casa?”.
Refleti e resolvi recusar o convite e tratei de me arrancar dali o quanto antes. Meu pinto não é muito exigente, entra em qualquer buraco e não tem critérios muito bem definidos. Mas acima de tudo meu pinto tem seus princípios.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O(s) cachorro(s)

Ele fica sempre ali quietinho. Não late pra nada, não late pra ninguém. Às vezes parece nem estar ali, só olhando para o além. Sempre foi dócil e vive sem reclamar, sem rosnar. Sem protestar, sem nada.
Quando o chefe chega ele pula de alegria. Fica acordado durante o dia e pela noite repousa. Acorda sempre bem cedo. Quando chega um estranho ele tem medo. Até mesmo dos conhecidos.
Esse não morde e também não ladra. Pra brincar lhe jogam uma lata ou garrafa. Quando está faminto, ração. Vez em quando um pão. Ele é tão dócil e ninguém sabe a razão disso. Vai pro serviço e não se informa. Conhece a política, mas não a transforma. Nem mesmo no próximo dia 03 vai buscar a reforma.


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Com a devida autorização de mim mesmo, aproveito para divulgar meu trabalho como jornalista. Neste mês foi publicada uma matéria que escrevi para a revista do Crea-Pr. Para acessar clique Aqui.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lágrimas

Cem anos. Cem anos de lágrimas, aperto no coração, agonia e ao final, alegria. Cem anos de raça, luta, suor, e lágrimas, sempre lágrimas.
Cem anos de uma história recheada de histórias. História cheia de lágrimas. Lágrimas cheias de tristeza e lágrimas cheias de alegria.
Lágrimas de tristeza derramadas ao longo de cada um dos 23 anos. Lágrimas de alegria derramadas ao acabar com o jejum em 7 segundos.
Lágrimas de alegria ao ver a massa invadir o Maracanã. Lágrimas de tristeza ao ver o título se esvair.
Lágrimas de alegria por um pênalti perdido na libertadores. Lágrimas de alegria por uma decisão por pênaltis no mundial.
Lágrimas de alegria por anos sem vencer o time do rei. Lágrimas de alegria por uma obra de arte pintada por Marcelinho, um majestoso gol feito no próprio filho do rei, e aplaudido em pé por vossa majestade.
Lágrimas de tristeza por um título perdido para meninos pedaladores. Lágrimas de alegria por 7 gols contra apenas um do adversário, com show do nosso argentino raçudo.
Lágrimas de tristeza ao disputar a série B. Lágrimas de alegria por subir com muita raça no ano seguinte.
Lágrimas pelos nossos craques, nossos doutores, nossos talismãs, nossos pés de anjo, nossos democráticos, nossos goleiros roqueiros e pegadores de pênalti, zagueiros precisos e de poucas faltas, laterais rápidos e fortes, volantes descontraídos e cabeludos, atacantes endiabrados, raçudos e fenomenais.
Jogadores que sempre nos proporcionaram lágrimas, algumas tristes, claro, todos os times passam por isso. Mas acima de tudo o time mais brasileiro nos proporcionou cem anos de lágrimas alegres acompanhadas de sorrisos. E com muito orgulho bato no peito e digo o que sou: Corinthiano, maloqueiro e sofredor. Graças a Deus!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mais um

Argumento sem contra argumento. Assim era o “diálogo” do casal brevemente antes do boa noite. Depois disso ela virava para o lado carregando consigo um pouco de raiva e muita decepção. No outro dia tudo voltava ao normal. Voltavam a ser o casal harmonioso que sempre foram.
Harmonia e alegria inclusive já haviam sido argumentos utilizados por ela para ter um filho. Mas nada adiantava, poderiam ser horas, minutos ou segundos que ela dedicava diariamente para tentar convencê-lo ou fazer com que ele ao menos compreendesse a razão de que deveriam ter uma criança. Ele respondia apenas “não, Marina”.
A principal razão dela para tal idéia é a de que deveriam dar uma continuação àquele relacionamento e principalmente um fruto resultante daquele amor.
Ela já pensara até que ele não a amava, mas a hipótese foi descartada. Seria impossível que Thomas não a amasse depois de tudo que viveram juntos. Conheceram-se ainda na faculdade, antes de ele desistir do curso. Após tempos de encontros de suposta amizade começaram a namorar. O namoro já se deu desde o primeiro beijo, ambos sabiam e sentiam que não seria apenas um. Mas 10 anos após o primeiro beijo e casados há cinco ele não queria realizar o sonho dela.
Era incansável sua determinação em tentar convencê-lo. Mais de um ano de tentativa e apenas não em cima de não. Ela já havia pensado até em ter um filho sem o consentimento do marido. Parar de tomar a pílula e pronto. Mas não. Não faria nada que o marido não quisesse, ainda mais sendo algo de tamanha importância.
Embora ela não desistisse ele se encheu de dizer todos os dias a mesma coisa e resolveu apresentar sua verdadeira razão:
- Marina, meu amor. Não posso colocar uma criança em mundo como esse. Mais uma criança. Mais uma criança que talvez tenha seus direitos violados. Mais uma criança neste mundo injusto. Mais uma criança que irá ver outras crianças e adultos passando fome. Mais uma criança sujeita a discriminar ou ser discriminada. Mais uma criança que talvez não tenha oportunidades de vida. Mais uma espectadora para ver pessoas sem teto ou sem terra. Mais um neste mundo bom habitado por gente ruim. Mais uma nesse mundo degradado. É impensável um fruto do nosso amor, tão puro em um mundo tão cheio de ódio.
Marina chorou, Thomas também. Dormiram abraçados como há tempos não ocorria. No outro dia tudo bem de novo. Sem problemas. Ao chegar em casa após o trabalho Thomas teve uma grande surpresa. Um agitado cachorro distraia sua mulher. Ele questionou o que era aquilo e ela calmamente respondeu:
- Você tinha razão amor. Não há sentido colocar mais um humano nesse mundo cão.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A vida é dura, e eu também tenho que ser

Despertei sem muita disposição hoje. Esse frio preguiçoso só me dá vontade de ficar na cama. Jamais imaginei que desenvolvendo um trabalho que gosto ficar na cama sozinho iria me atrair tanto. Ela me seduz. E eu aqui, abraçado com as cobertas já não luto muito para me desvencilhar. Não quero sair daqui nem pra tomar café. Quero ficar só com os olhos pra fora do edredom e eventualmente externar a mão para trocar de canal.

O pior é que já está chegando às 7h (19h na verdade) e preciso levantar. Preciso tomar banho, preciso comer, preciso me arrumar, preciso separar meu uniforme (ainda bem que não é muito) e o pior de tudo: hoje preciso depilar a bunda.

É necessário estar disposto e animado, ou pelo menos fingir. Queria ligar pro patrão e simplesmente dizer “não tô a fim”.

Mas preciso ir. Vou levantar. As clientes me aguardam, especialmente por que hoje é sábado. E eu que pensava ser mole, mas pelo contrário tenho que dar duro, e muito. Vida de gogo boy não é fácil. Vou levantar. O dever me chana.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Auto-escola

Lá pelos idos dos meus 18 anos resolvi tirar a carteira de motorista. Era meio chato ir para as aulas teóricas, mas por outro lado era muito divertido. Quando era para fazer os testes eu dava sonoras risadas na sala de aula e todos me olhavam com cara de “do que esse idiota está rindo?”.
Como estou prestes a renovar a carteira lembrei-me daquela época e direi a você nobre leitor por que diabos eu gargalhava na classe.
É simples. Nas questões havia alternativas simplesmente bizarras, que não sei por que diabos estavam lá, levando-se em consideração que as pessoas que fazem o teste teórico já passaram pelo psicotécnico. Eu lia as alternativas e ficava imaginando alguém realizando aquelas ações e reproduzo abaixo algumas delas. Se quiser reprovar e demorar mais um bocado fazendo auto-escola marque no seu teste as alternativas em maiúsculo:


Direção defensiva:

Praticar boas relações no trânsito é também:
a) CONVERSAR BASTANTE COM OS PASSAGEIROS.
b) CUMPRIMENTAR TODOS QUE ESTÃO NA VIA.
c) Respeitar o sinal vermelho.
d) Ceder sempre a sua vez aos outros.
e) Ser tolerante com os outros, colocando a segurança em primeiro lugar.

À noite ao ser ofuscado por faróis altos, o condutor deve:
a) FECHAR OS OLHOS.
b) Para no acostamento até o outro veículo passar.
c) DESVIAR PARA A ESQUERDA E SE ORIENTAR PELAS FAIXAS DO SOLO.
d) OLHAR PARA O OUTRO VEÍCULO E TAMBÉM LIGAR O FAROL ALTO.
e) Evitar olhar diretamente para a luz, orientando-se pela margem direita da via.

O procedimento correto na condução de um veículo, que demonstra respeito aos demais usuários da via, é:
a) Sinalizar com antecedência todas as manobras.
b) Estacionar sobre a calçada deixando espaço para os pedestres.
c) Dar preferência aos demais condutores em todos os cruzamentos.
d) Acionar o pisca-alerta sempre que parar em fila dupla.
e) BUZINAR SEMPRE QUE O PEDESTRE TENTAR ATRAVESSAR A VIA.

Ao receber um insulto no trânsito, o condutor deve:
a) Chamar um guarda, solicitando que multe o agressor.
b) LIGAR O RÁDIO BEM ALTO PARA MOSTRAR QUE NÃO SE IMPORTOU.
c) Manter a calma e não revidar, como maneira de evitar um conflito.
d) Anotar a placa do veículo para reclamações posteriores.
e) REVIDAR DEMONSTRANDO SUA IRRITAÇÃO.

O condutor deve adotar uma postura adequada, sendo:
a) AGRESSIVO E RÁPIDO.
b) DECIDIDO E AGRESSIVO.
c) CUIDADOSO E LIGEIRO.
d) Cuidadoso e atento.
e) CUIDADOSO E OUSADO.

O condutor, ao ser ultrapassado, deverá:
a) Reduzir bastante a velocidade.
b) PARAR O VEÍCULO E PERMITIR A ULTRAPASSAGEM.
c) AUMENTAR A VELOCIDADE.
d) BUZINAR PARA AVISAR QUE ESTÁ PERMITINDO A ULTRAPASSAGEM.
e) Facilitar a ultrapassagem.

A velocidade compatível com a segurança permite ao condutor:
a) FORÇAR A SAÍDA DO VEÍCULO QUE ESTIVER À SUA FRENTE PARA UM DOS LADOS DA VIA.
b) FREAR RAPIDAMENTE, SEM SE PREOCUPAR COM OS DEMAIS VEÍCULOS.
c) Perceber antecipadamente os riscos e agir prontamente para evitá-los ou controlá-los.
d) REALIZAR ULTRAPASSAGENS PELA DIREITA.
e) MANTER UMA CONVERSA ANIMADA COM OS PASSAGEIROS.

O limpador de pára-brisa não está vencendo a chuva forte. Nessa situação você:
a) CONTINUA O TRAJETO SEM SE PREOCUPAR.
b) ABRE AS JANELAS E PROSSEGUE O TRAJETO.
c) ACELERA MAIS PARA DISSIPAR OS PINGOS DE CHUVA.
d) LIGA OS FARÓIS ALTOS.
e) Para o veículo em local seguro e aguarda.

Primeiros socorros

O melhor local no corpo para se verificar a pulsação é:
a) NO PÉ.
b) No pescoço.
c) NA ARTÉRIA PULMONAR.
d) ATRÁS DO JOELHO.
e) EM ALGUMA VEIA SALIENTE.

A vítima que deverá receber primeiro os procedimentos de primeiros socorros, é a que estiver:
a) Gritando, com muita dor.
b) Sangrando muito.
c) Respirando com muita dificuldade.
d) XINGANDO, COM MUITAS AMEAÇAS.
e) Com muitas fraturas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Os gêmeos

Douglas e Paulo tinham 25 anos, eram filhos da mesma mãe, do mesmo pai e moravam em Curitiba. As semelhanças entre eles eram praticamente estas. Além disso, quem não os conhecesse desde a infância jamais diria que eram gêmeos.
Viviam em universos distintos. Paulo não trabalhava, não estudava. Douglas não bebia, não fumava. Paulo só bebia, só fumava (entenda-se fumar tudo fumável, com exceção ao crack) e vivia rodeado de amigos. Douglas só trabalha, só estudava e nunca dava risada. Ao longo dos 25 anos a vida de ambos foi assim.
A rotina de Douglas era do trabalho para a aula e da aula para casa. A rotina de Paulo era de bar em bar. Quando questionado sobre suas pretensões para o futuro Paulo respondia que iria pedir mais uma cerveja. Douglas pensava apenas no futuro, construindo-o a cada dia. Emprego, dinheiro, família, carreira, etc...
Os pais questionavam por que Paulo não era como o irmão, e ele respondia com um largo sorriso “Não posso trabalhar agora. Tô ocupado curtindo a vida”. Essa era sua filosofia, curtir a vida a cada dia, a cada minuto, a cada instante.
Paulo hoje tem 75 anos e continua seguindo sua filosofia, pode ser encontrado pelos bares da vida, dos mais fuleiros aos mais sofisticados, desfrutando de uma certa herança.
Douglas faleceu uma semana antes de completar 26 anos em um acidente de carro. Partiu sem conhecer o gosto amargo da cerveja e o doce da vida.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Zumbis

Não sei como, mas aconteceu. Não sei como foi a contaminação, mas todos agora parecem viver em vão. Todos na cidade viraram zumbis. As ruas estão lotadas durante o dia. Os zumbis vagam com o olhar vago. Tem medo de olhar uns aos outros com medo de acabar morrendo.
Alguns andam vagarosamente, mas a maioria anda rápido, com medo da própria raça. Os olhares se direcionam apenas ao chão. Por não se olharem eventualmente se esbarram, mas jamais direcionam o olhar para quem esbarrou. Falar é praticamente contra a lei.
Reúnem-se em cavernas, mais conhecidas como casas, onde se alimentam e acasalam. Há relatos de que alguns se tornam humanos ao entrarem na tal casa, mas são raros casos. Grande parte se liga a um equipamento chamado TV por meio do qual absorvem diariamente a ordem vigente.
Na noite o medo dos semelhantes se expande. São poucos que não se acolhem na caverna neste período. Os que estão pelas ruas são mais frágeis ou mais fortes. A caça é constante, mas enquanto alguns a fazem de dia outros a fazem somente à noite, período em que acontece a caça em sua forma mais perversa. Os caçadores precisam se alimentar, mas não de sangue como os zumbis comuns, mas sim de um estranho objeto chamado dinheiro.

Guylherme Custódio, 22/06/10 direto da zumbilândia ou simplesmente Curitiba.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A celebração

Os convidados iam chegando. Às vezes aos poucos, sozinhos, outras em bando. Logo iam em sua direção lhe dar um apertado abraço. Alguns ele não via há tempos, outros bebiam junto até ontem e assim como ele carregavam a ressaca consigo. Os amigos chegavam e iam se aglomerando. A maioria nem conseguia entrar no salão, só chegavam, davam uma olhada e ficavam na área externa. Os fumantes aumentavam o morro de bitucas intensamente.
Ele não parava. Pulava toda hora de grupo em grupo. Sua presença era importantíssima para todos. E não gastara sequer um tostão para reunir tanta gente. Em suas festas comumente não iam tantas pessoas. Sem planos, sem convite nem nada conseguiu promover aquela grande reunião.
Com tantos amigos por perto no fundo ele ficava feliz, mesmo carregando a imensa dor por estar no velório da própria mãe.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Engano?

- Alô.
- Alô, quem é?
- É o chunda.
- Que chunda?

- Aquele que...

Ops, não era essa a história que eu ia contar!
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- Alô.
- Alô, quem é?
- É o Mário.
- Que Mário?

- Aquele que...

Ops, também não era essa a história!
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- Alô.
- Alô. Quem?
- É o Gilberto.
- Oi Gil tudo bem?
- Tudo bem e com você?
- Tudo bem também. Cê me ligou?
- Não sei. Liguei?
- Acho que sim. Teu número apareceu aqui na bina.
- Mas quem tá falando?
- É a Sheila.
- Sheila...
- É.
- Desculpa, mas acho que não liguei.
- Mas esse número tá aqui.
- Pois é, mas não me lembro de ter ligado.
- Então tá. Na verdade acho que você também não é quem eu achava que fosse.
- Ah, então tá bom.
- Então tá.
- Mas...
- O quê?
- Nada não.
- Então tá. Até outra hora.
- Ué, como assim até outra hora? Você vai me ligar de novo?
- Não sei.
- Ah, ligaê pra gente conversar... fazer alguma.
- Beleza, ligo sim, pra gente ir no cinema.
- Suce então, vamos ver Titanic!
- Então tá bom.
- Então fechô Sheila. Muito prazer em conhecê-la.
- Com prazer é mais caro.
- Hoiuhaeiuohaoieuhioaueh*. Então tá bom, beijos.
- Beijos.
Uma semana depois ele recebe uma ligação de um número desconhecido. Não acreditou quando constatou que era a menina da ligação por engano. Ela também não acreditou que teve coragem de ligar. Mesmo com ambos não acreditando em nada foram ao cinema. Ao se olharem tiveram uma grande surpresa ao constatar que o outro não era tão feio quanto o pessimismo de ambos imaginava. Namoraram por dois anos e tiveram um filho juntos, quando o picorrucho completou um ano se separaram.


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* Óbvio que o personagem em questão não deu risada dessa maneira. Ainda não consegui criar uma adaptação da risada real para a escrita.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Poucássimo

- Você tem pouco tempo de vida.
- Quanto tempo?
- Pouco.
- Pouco quanto?
- Pouco.
- Um mês? Uma semana? Um dia?
- Não posso saber ao certo, mas sei que é pouco.
- Mas é pouco, pouquinho, pouquíssimo ou poucão?
- Poucássimo.
- Poucássimo?
- Poucássimo!
- Poucássimo quanto?
- Poucássimo.
- Poucássimo ou pouquíssimo?
- Poucássimo.
- Poucássimo ou pouquissíssimo?
- Poucássimo!
- Mais de um mês ou menos?
- De dois meses não passa.
- No máximo ou no mínimo?
- No máximo dois meses.
- E no mínimo?
- Uma semana.
- Mais isso é muito tempo.
- Quanto? Uma semana ou dois meses?
- A diferença.
- Que diferença?
- Entre o máximo e o mínimo.
- Você se considera otimista ou pessimista?
- Qual a diferença? Vou morrer mesmo.
- Faz muita diferença.
- Qual a diferença?
- Entre o máximo e o mínimo?
- Não. Entre se otimista ou pessimista.
- Se for otimista irá pensar em dois meses, se for pessimista uma semana.
- E qual a diferença?
- Um mês e três semanas.
- Não. Qual a diferença no final?
- O tempo.
- Que tempo?
- Que demorou para acontecer.
- Tudo bem. Obrigado pela notícia.
- Por nada.
Foi para casa pensando o que faria. Precisava fazer alguma coisa, aproveitar. Algo que não tinha feito até então. Tinha pouco tempo. O trajeto foi feito de maneira automática, como fizera a vida inteira. Ao chegar em casa resolveu fazer o que nunca havia feito na vida. Foi até o quarto e do fundo do armário retirou o 38. Engatilhou e deu um tiro na própria cabeça.
A espera seria muito angustiante.

sábado, 3 de abril de 2010

Merda

Olho pro lado. Não há ninguém. Merda.
Tateio. Celular sem bateria. Merda. Vou ter que levantar. Descubro ser 8h. Deito de novo.
Ligo a TV. Tá rolando um Globo Rural. Merda. Além disso é pastor pra tudo quanto é lado. Lado não, canal não tem lado, pelo menos na minha TV é só pra cima ou pra baixo.
Fico ali meio em transe, divagando enquanto ouço e vejo soja pra lá, mandioca pra cá, feijão acolá e agrotóxico lá pá puta que o pariu. Merda.
Melhor dormir de novo. Fecho os olhos e tento me aconchegar, viro em todas as direções e descubro que nem plantando bananeira consigo dormir. Merda.
Acordo “de novo”. Acendo um cigarro. Daqui a pouco tem o programa de esportes. Minha manhã se esvai frente à televisão enquanto lá fora cai uma chuva torrencial. Olho pela janela e fico admirando a chuva enquanto acendo mais um cigarro. Pareço um cachorro desolado. Merda.
É hora do almoço. Abro o forno na esperança vã de haver algum resto de comida, daquelas de verdade mesmo. Não há nada. Merda.
Miojo de novo. Merda. Galinha caipira. Merda. Como em frente à TV. Merda. Programa do Didi. Merda. Os cara de pau. Merda.
Não dá. Preciso sair e fazer alguma coisa, útil de preferência. Já sei. Vou ligar para alguém. Não tenho crédito. Merda. Acendo mais um cigarro.
Não tem internet. Merda. Meus livros estão lá na mãe. Merda.
A chuva não pára de jeito nenhum. Merda. Quando ameniza e acho que agora vai...o mundo volta a desabar. E o pior é que 21/12/2012 ainda tá longe. É só chuva mesmo. Merda.
As cinco têm futebol pelo menos. Quem joga hoje que eu nem sei? Palmeiras e Bragantino. Merda. Durante o intervalo acendo um cigarro. Palmeiras ganha. Merda.
E agora? Silvio Santos. Merda. Faustão. Merda. Gugu. Merda. Celso Portiolli. Merda.
Vou fumar mais um...merda. O cigarro acabou. Reviro os poucos móveis da casa em busca de um cigarro perdido, uma bituca grandinha que seja. Merda. Procuro em todos os bolsos das calças e blusas e o que encontro no máximo são carteiras vazias. Merda.
Não vai ter jeito. Vou ter que sair. Junto os trocados. Calça, meia, tênis, camisa, blusa e guarda chuva. Merda. Odeio guarda chuvas. Chego em casa molhado até o joelho. Merda. Tanto esforço por causa de uma merda de um cigarro. Merda.
Banho quente. A melhor coisa do domingo de merda.
Fome. Jantar. Miojo. Merda. Legumes. Merda. Lavar a louça. Merda.
Acendo um cigarro. Mais um e mais um. Merda. Devia ter comprado um vinho também. Merda. Mas nem teria dinheiro mesmo. Merda.
Olho o celular. Nenhuma ligação. Merda. Nenhuma mensagem. Merda.
Idéia brilhante. Passo alguns minutos me dedicando ao joguinho do telefone. Dou por mim. Que merda é essa? Jogo o celular. Merda.
BBB. Merda. TV de merda. Acendo mais um cigarro. Começo a tossir como tivesse tuberculose. Merda. Já tá de noite e eu não fiz nada. Merda. Tenho que trabalhar amanhã. Merda.
Última esperança: corujão. Às vezes rola uns filmezinhos da hora.
“Informamos que devido à manutenção dos equipamentos a sessão corujão não será exibida. Boa noite”.
MERDA!


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Curiosidades:
Neste texto a palavra "Merda" foi repetida 47 vezes.
O personagem em questão fumou oito cigarros.

Tá, e daí né? Grandes merda.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A aliança

Ele estava nervoso. Ela não. O nervosismo era definido pela intenção carregada por ele e desconhecida por ela.
Estranhou, mas não desconfiou. Não era do feitio dele chamá-la para jantar invés de convidá-la para beber. Não se vestiu costumeiramente como um maloquêro. Em sua cabeça já estava tudo bolado (sem referência nenhuma às drogas). Daquela noite não passava.
Chegaram ao restaurante, daqueles que os amigos mais velhos sempre comentavam mas eles nunca tinham ido. Ele demorou em juntar a grana do jantar, esse foi um dos motivos da demora. Um dos pequenos motivos dentre vários (e maiores).
Tinha até reservado mesa, motivo para que ela se admirasse ainda mais. Puxou a cadeira para ela sentar-se. Velas na mesa. Pedem o jantar.
Durante a conversa ficaram meio sem assunto. Ele só pensava em uma coisa, que não poderia falar naquele momento.
Ao término do jantar em si ele propõe um Champagne. Ela discorda. Queria uma bera bem gelada. Depois da cevada ele faz sinal para o garçom. Ele traz duas taças e uma delas contém uma aliança no fundo.
Ela não vê e nada fala. Ele também não, ao chegar no final ela perceberia. Ela bebe devagar. A agonia aumenta. Ele soa frio já na metade da taça. Parecia que uma eternidade já passara ali. E restava ainda a outra metade da taça e uma outra eternidade.
Repentinamente ela vira a taça num só gole, se engasga com a aliança e morre.

Objetivo alcançado: matar a noiva aparentemente por acidente (e antes de casar).

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Tal qual 2009, neste ano peço desculpas aos poucos mas fiéis leitores. Eu tentei, juro que tentei, mas não dá. Como o Brasil meu blog só funciona depois do carnaval mesmo.
Falando em Carnaval... sempre imaginei que o CRÉU era o limite. Mas vem um novo carnaval e me surpreendo novamente com a bola da vez. O rebolation!

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Infelizmente terei que voltar a moderar comentários. Venho recebendo uns spams meio vírus (ou seria o contrário?).