segunda-feira, 18 de março de 2013

Má ré

Olhando para o céu, penso o quanto minha vida mudou depois que me livrei dela.

Tudo parecia piorar quando ela estava por perto. Ela era um aspirador obscuro, que eficientemente roubava todas minhas energias positivas.

Fui burro ao tentar levar aquilo a sério. Jamais poderia dar certo um relacionamento com uma pessoa que conheci após ter batido no meu carro.

Para momentos como aquele acumulei um arsenal de palavrões, que agora enriqueço cada vez mais. Teria o disparado, mas quando fui abrir a porta do carro ela já estava na janela chorando e pedindo desculpas. Não consegui dizer nada e ainda assumi a culpa.

- Bati o carro, amor. Vou chegar tarde – O pretexto parecia perfeito. Não era uma mentira, mas não foi o único motivo para ter chego 3h da madrugada. Fui ao motel com a mulher que bateu no meu carro.

Em uma única noite bati (e paguei) o carro, meu casamento acabou e fui ao motel (e paguei também) onde brochei pela primeira vez.

Depois que me separei ela e seu azar me faziam companhia frequente.

Minha saúde de ferro enferrujou. Passei a beber cada vez mais e a usar drogas depois que ela trouxe cocaína “só pra gente se divertir um pouco”. Até o meu time, o invencível Barcelona, passou a perder.

Quando percebi o revés tentei evitá-la, mas era inevitável. Mudei do meu quartinho de solteiro, mudei meu telefone e mudei de emprego. Melhor, perdi meu emprego.

Quando eu esboçava um sorriso ela surgia do chão para roubá-lo. Mercado, bar, médico, cinema, teatro...Ela parecia aquele e-mail com um slide idiota em que você se concentra e de repente aparece um demônio gritando em sua caixa de som.

Acreditei que me mudando para um cidade de 2.000 quilômetros de distância eu estaria livre, mas lá estava ela. Foi aí que concluí que não haveria outro jeito. Tive que matá-la.

Depois disso, minha vida finalmente melhorou. Muito. Penso isso mesmo que esteja olhando para o céu pela janela da minha cela enquanto outro detento me açoita.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Flashes

Flash nº 16

Já eram 4h e eu ainda estava lá. Mesmo tendo que estar no trabalho às 8h. Aquele inferninho no centro da cidade era o único lugar aberto àquela hora. Estávamos completamente bêbados, mas não inanimados.

Jamais imaginei que entraria naquilo, mesmo quando passava por ali de dia.

Os meus dois amigos eram frequentadores do local, cumprimentavam o garçom e o porteiro pelo nome e conheciam outros presentes.

Flash nº 15

Homens e mulheres bêbados dançavam no salão. Deveria ter umas 40 pessoas ali. Bolas e tacos abandonados na mesa de sinuca. Casais aparentemente recém-formados ficavam em cantos mal iluminados. Mesas serviam de camas improvisadas para os alcoolicamente sonolentos.

Ficar encostado no balcão me pareceu o ponto mais seguro. Tomava uma cerveja enquanto olhava para os meus amigos, que dançavam sorridentes com duas meninas. Feias. Lazarentas de feias.

Dançavam e me olhavam. Exibir aquelas moças de poucos dentes parecia divertido.

Flash nº 9

Vinha sorrindo em minha direção. Pensei em sair, ir até o banheiro. Mas continuei ali. A aproximadamente um metro a reconheci.

Flash nº 13

O dia já clareava quando entramos em um daqueles motéis do centro. O cara da recepção a confundiu com uma puta, mesmo nunca tendo a visto ali (?). Não nos incomodamos com o pulgueiro. Pagamos R$ 25.

Flash nº 10

Tinha o cabelo volumoso e era corpulenta. Deveria estar com uns 50 anos. Eu, 20. Tinha um vestido preto um pouco acima do joelho, que revelava suas formas. O seu olhar permanecia misterioso e penetrante.

Flash nº 14

Olhava para aquela imensa bunda e até me abaixei para tentar ver sua calcinha enquanto subia as escadas. Mesmo sabendo que dentro de alguns instantes poderia ver tudo o que queria. Pura molecagem.

Flash nº 1

Acordei com o gosto salgado daquela tenra buceta.

Olhei para aquele corpo ao meu lado e lembrei que um dia aquele fora um belo corpo. O observava muito durante a infância. Olhava com detalhes durante o dia para me masturbar de noite. Jamais transaria com uma mulher daquela, se não fosse ela a mãe de um amigo de infância. Pude sentir o gosto que não tive quando criança.

terça-feira, 5 de março de 2013

É namoro ou amizade?

Eram adolescentes que achavam ser adultos e tinham um coração de criança. Amavam-se do amor mais puro.

Em pleno fervor da adolescência, sedentos pela carne, ainda assim preferiam o amor.

Sem segundas intenções beijavam e abraçavam-se com freqüência. Conversavam pessoalmente, por e-mail, chat, SMS e todas as plataformas disponíveis. O assunto era inesgotável.

Na escola sentavam lado a lado. Por conversarem demais os professores eram obrigados a pedir que ficassem quietos. Para garantir que a aula ocorresse bem, alguns professores colocavam um em cada extremo da sala antes mesmo da aula começar.

Quanto mais juntos ficavam, mais juntos queriam estar. Até a distância os aproximava.

Embora ela quisesse namorar, ele tinha a consciência de que iria estragar aquele amor. A amava tanto que não queria machucá-la. Desde jovem já sabia que os homens sempre machucam as mulheres.

Coube a outro homem machucá-la.