segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Limpando ratos

Meu mouse me enoja.

Se deposita nele uma crosta. Agora, regurgita tudo que o fiz engolir.

Todos os dias às 9 da manhã invés de tomar café ele é obrigado a deglutir todos os meus resquícios. As coçadas noturnas no cu. A punheta matinal após perceber que a presença da namorada era apenas um sonho. A escova de dentes. As chaves. O celular. O cigarro. O cabelo. O jornal. O livro. E a multiplicação de tudo assegurada no ônibus.

Me devolve tudo. Sou eu que acho nojenta a sua superfície sebosa.

Quero lavá-lo. Lavar as mãos. Começar tudo de novo. Pedir desculpas. Errei. Tu erraste. Outros erraram. Temos um trato senhor rato. Apertamos as mãos e está tudo resolvido. O melhor acordo é aquele que o outro é obrigado a aceitar.

Mas não consigo levantar. Essa tarefa me prende. Essa música me apreende. Só mais uma revisão. Só mais uma lida. Será que há crase aqui? Ah, há. É à. Não a. Nem á. Ao consultar me perco na esquina do serviço. Abrir o navegador é sempre uma chance de naufrágio. A maré me leva às mensagens passadas do e-mail. Exploro as novas velharias de facebook. Anuncio filho da puta. Preciso passar isso. Cinco segundos de publicidade é muito tempo na minha idade.

Sou obrigado a levantar. Abaixo as calças. Mijo. Lavo as mãos. A água leva a alma da sujeira.

Volto ao mouse imundo. Bate 18 horas. Vou embora beber.

Amanhã passo um álcool.

O álcool, às vezes, resolve muitos problemas.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Por quê?

- Por que eu? Por que logo comigo? Com a pessoa que mais te ama? Nunca fiz mal pra você. Nunca fiz mal pra ninguém. Pelo contrário, sempre procuro fazer o bem pra todo mundo. Sempre prezei pela amizade dos meus amigos, pelo amor de quem eu amo e pelo bem de qualquer ser humano. Sou prestativa com todos. Sempre estendo a mão. Sempre tô disponível para quem precisar de mim, toda hora. Nunca neguei nada pra ninguém. Sempre fui generosa. Emprestei dinheiro para quem precisou. Emprestei meu carro para quem precisou. Emprestei meu ombro para quem precisou. Dei meu tempo para quem precisou. Nunca me aproximei de ninguém querendo favores. Nunca falei mal de ninguém. Nunca fui mau com ninguém. E é isso que eu recebo em troca. Por quê? Me responde! Por quê?

- Por isso mesmo.