Meu mouse me enoja.
Se deposita nele uma crosta. Agora, regurgita tudo que o fiz engolir.
Todos os dias às 9 da manhã invés de tomar café ele é obrigado a deglutir todos os meus resquícios. As coçadas noturnas no cu. A punheta matinal após perceber que a presença da namorada era apenas um sonho. A escova de dentes. As chaves. O celular. O cigarro. O cabelo. O jornal. O livro. E a multiplicação de tudo assegurada no ônibus.
Me devolve tudo. Sou eu que acho nojenta a sua superfície sebosa.
Quero lavá-lo. Lavar as mãos. Começar tudo de novo. Pedir desculpas. Errei. Tu erraste. Outros erraram. Temos um trato senhor rato. Apertamos as mãos e está tudo resolvido. O melhor acordo é aquele que o outro é obrigado a aceitar.
Mas não consigo levantar. Essa tarefa me prende. Essa música me apreende. Só mais uma revisão. Só mais uma lida. Será que há crase aqui? Ah, há. É à. Não a. Nem á. Ao consultar me perco na esquina do serviço. Abrir o navegador é sempre uma chance de naufrágio. A maré me leva às mensagens passadas do e-mail. Exploro as novas velharias de facebook. Anuncio filho da puta. Preciso passar isso. Cinco segundos de publicidade é muito tempo na minha idade.
Sou obrigado a levantar. Abaixo as calças. Mijo. Lavo as mãos. A água leva a alma da sujeira.
Volto ao mouse imundo. Bate 18 horas. Vou embora beber.
Amanhã passo um álcool.
O álcool, às vezes, resolve muitos problemas.
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