quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Glória e decadência

Quando eu andava parecia que todo mundo me olhava, quando passava as pessoas até me apontavam e falavam “olha lá o cara que fez o gol”. Mas toda a bajulação foi embora em menos de uma semana. Mas o que importa é que um dia eu fui o cara, o bam, bam,bam, o XXX na escola.
Eu estudava no segundo ano do segundo grau e tava rolando um campeonato de futebol lá no colégio. O primeiro jogo foi bem disputado, jogamos com uma outra turma do segundo ano. Entrei no segundo tempo. O jogo terminou 0 x 0 e fomos para os pênaltis.
Eu não queria bater, seria muita responsabilidade se eu errasse, o meu time seria eliminado no primeiro jogo. E os pênaltis foram indo “lá e cá”. Ninguém errava. Mas na penúltima cobrança do time dos caras o melhor jogador deles inexplicavelmente errou. Se o nosso time fizesse o gol nós passávamos. No nosso time tinha sobrado só dois jogadores: eu e o Hélisson, o melhor jogador do time. Nos olhamos e ele falou para eu cobrar.
Fiquei um pouco mais confiante quando ele me deu essa responsabilidade. Acho que na verdade ele queria cobrar por último, por que imaginava que eu iria errar. Quando coloquei a bola no lugar pude ouvir alguns companheiros de time falando pro Hélisson: “Vai você piá. Tá loco? Deixar o fogo cobrar...”.
Me bateu uma incerteza. Será que eu metia o bicão pra colocar a bola e o goleiro pra dentro do gol? Com o peito do pé? Ou com a chapa? Fiquei com medo de bater forte e jogar a bola longe do gol e quebrar uma janela do Colégio (nunca fiz isso, mas era muito comum por lá). Resolvi bater colocada no canto do goleiro. São poucos os que conseguem pegar uma bola no cantinho inferior.
E esse não foi exceção. Fiz o gol e o colégio veio abaixo. Todos comemoraram meu gol. Vibraram. O meu time e uma grande parte das pessoas que assistiam ao jogo vieram comemorar comigo. Eu tinha um certo nível de popularidade na escola.
No outro dia de aula cheguei e todo mundo sorria pra mim. Eu estava com um bom status com o time e com a escola inteira. Na minha sala era o herói. Fui o responsável por levar meu time à próxima fase (pelo menos eles achavam isso), o que não era esperado. Batemos um bom time e honestamente o nosso time não era lá aquelas coisas. A próxima partida seria no outro dia.
Novamente entrei no segundo tempo. Nosso time já levava uma sacola. O jogo era contra um time do terceiro ano, que contava com uns caras bons. O goleiro lançou para o jogador que estava atrás de mim. Eu não consegui cabecear para cortar o lançamento. Se ele pegasse a bola seria gol. Sem pensar muito meti a mão na bola e...expulsão.
Todos me julgaram e condenaram pela derrota. Não entendi. Não tive culpa. O time já perdia antes d’eu ser expulso e não iria ganhar se eu continuasse em campo. Na real, também não fui o responsável pela vitória anterior. Só fiz o gol como os meus companheiros que tinham cobrado anteriormente. Mas sempre tem que ter um responsável.
E os meus dias de glória passaram.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A coceira

Fernando saía todos os dias de manhã para trabalhar e deixava Janaina em casa. Voltava à noite e ela estava lá com o jantar aguardando. Todo dia ela fazia tudo igual, o sacudia às seis horas da manhã, lhe sorria um sorriso pontual...(enfim, vocês conhecem a música né?).
O trabalho era intenso, mas não lhe faltava tempo para pensar na mulher. Quando podia ia almoçar em casa, mas eram raras vezes. A ligação para Janaína era sagrada depois do almoço e antes de voltar à labuta.
Certa vez trabalhando sentiu uma coceira incômoda na testa. Não passava de jeito nenhum. Passou praticamente a tarde inteira trabalhando apenas com o braço direito, enquanto o esquerdo estava ocupado com a testa. Naquela noite ao chegar em casa encontrou um fio de cabelo loiro no cangote de Janaína. Estranhou, mas nada falou. Detalhe importante: ele tinha cabelo castanho e ela era ruiva.
A semana passou normalmente. Na outra terça-feira a coceira tornou, desta vez de manhã. Na hora do almoço ligou para casa e Janaína não atendeu.
Os fatos se repetiram durante muito tempo. Toda terça a coiceira na testa vinha acompanhada de um fato incomum no lar. Concluiu: Janaína o traia.
Continuou silenciando sobre o assunto. Para ele era cômodo continuar a relação mesmo com a traição.
A coceira continuava. Já estava acostumado com a cornice coceira. Mesmo continuando o incômodo era menor. Ia reduzindo. Já nem era mais aquela coceira impertinente de antes. Chegou a ficar feliz pelo fato de achar que ela o traia com apenas uma pessoa, dadas as reduções do chifre infortúnio.
A coceira já estava praticamente parando. Mas um fato novo o deixou deveras preocupado. Subiu um frio pela espinha e não conseguiu trabalhar mais naquele dia. O fato era realmente preocupante, o que o levou a ficar possesso: naquela terça sentiu uma coceira no ânus.