terça-feira, 31 de julho de 2012

Espelho quebrado

Era ali onde vivia. Onde tudo acontecia. Onde sorria, mas não chorava. Ali criava sua ilusão e nela se espelhava.

Dedicava-se a criar e acreditar em sombras na caverna de Mark Zuckerberg. Era uma especialista em diversos assuntos (afinal, quem não é?). Ao longo do dia desfilava todas as qualidades em sua timeline: comentarista esportiva, defensora dos animais, polemista, noveleira, religiosa, filósofa, fofoqueira, fotógrafa, modelo, humorista, filantrópica, culta, moralista e acima de tudo um exemplo.

Entre murais, compartilhamentos, likes e comentários descobriu uma cutucada inesperada. Estava sendo traída.

A menina virtual não encontrou outra solução. Aquela vida pela qual tanto se dedicava deveria acabar: cometeu o facebookcídio.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O meu mundo

Vou dominar o mundo. Não no estilo Michel Teló ou no “the world is yours”. Mas vou dominar o meu mundo.

Vou fazer tudo o que quero para melhorar o meu mundo. O meu mundo vai ser o que eu quero e não mais o que o mundo quer que eu seja.

Amanhã pela manhã vou derrubar cada coisa e cada pessoa que acha que manda no meu mundo.

Não sei como, por que ou quando (quando nasci?) perdi o domínio, mas esse reino será meu.

Vou voltar para a minha profissão. Vou mandar meu currículo para todas as agências, jornais, assessorias, empresas e tudo nessa cidade que emprega, empregou ou vai empregar um jornalista. E algum deles vai me contratar. Tenho certeza. Se nenhum deles me quiser é por que estou definitivamente na profissão ou na cidade errada.

E tem mais. Vou escrever todo dia. Em menos de um mês o velho caderno vai ficar sem nenhum espaço. Nem pra anotação.

Vou publicar toda semana no meu blog. Se mantiver a periodicidade e a qualidade (?) alguém vai se interessar por isso e vai querer me publicar.

E quando esse alguém vier, já vou ter um livro pronto.

Com outros textos vou me inscrever em todo e qualquer concurso literário. Assim como no emprego, algum eu vou ganhar.

Também vou enviar textos para revistas, jornais, blogs e o que mais aceitar publicá-los.

Sim. Vai dar certo. Vou viver do que quero. Do que gosto. É só isso que eu quero. É simples, mas é preciso uma revolução. E ela vai começar. Já estou armado. Só preciso atacar.

Mas bem. Deixa eu ir dormir que amanhã cedo tenho que ir trabalhar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Alguém sobe a escada

É madrugada e alguém sobre a escada. Um desconhecido sobe a escada da minha casa.

Não vejo. Não sei quem é, mas é uma figura masculina.

Ele sobe decidido. Sabe o que quer. Mesmo no escuro ele não tateia por onde passa. Conhece a casa. Anda rápido, mas pra mim a ação se passa de forma lenta.

Ele tem um objetivo e vem cumpri-lo.

Chega ao cume e vem em direção onde estou. Nem mesmo olha para o banheiro ou para os outros dois quartos, um deles com a porta aberta.

Tem algo na mão direita. Algo que irá usar para cumprir sua meta. Uma arma? Um machado? Um martelo? Uma faca?

Se aproxima e praticamente encosta o corpo à porta. Toca a mão esquerda na maçaneta...

Acordo.

Me viro e olho para a porta. Misteriosamente a luz se acende. Meu coração dispara.