sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Tenha 15 com corpinho de 25. Pergunte-me como.

Sou um menino. Não passo de um simples menino de 25 anos que ainda age como tivesse 15.

Vivo sem motivações ou ambições.

Em escala maior, continuo fumando e bebendo. Não preciso comprar o cigarro mais barato e nem me esconder no meio do mato para fumar. Já sanei minha curiosidade pelo vinho, mas continuo bebendo (a mesma marca inclusive).

A diferença é que preciso pagar do meu bolso esse cigarro e esse vinho. Na verdade costumo marcar na conta, mas às vezes a véia me olha com cara de mau, aí sou obrigado a pagar.

Para ter esse dinheiro bato cartão em um dos muitos shoppings que habitam a capital ecológica. Quando perguntam o que faço, digo que trabalho “no setor administrativo-financeiro do ramo artístico”, o que se resume à apenas uma palavra: bilheteiro.

Com o que ganho pago mais ou menos o que consumo. Mas acho que se ganhasse mais não ia mudar muita coisa. Ia gastar mais ainda.

Acho que não preciso de muito para ser feliz. As pequenas coisas que me deixavam feliz aos 15 continuam as mesmas: ver o meu time ganhar, por exemplo.

O meu visual continua o mesmo. O cabelo que deixei crescer para tirar onda continua grande e já virou identidade. Dia desses vi uma foto antiga em que estava com uma camisa que ainda uso. E serve. Acho que ela cresceu junto comigo.

Como um menino, vivo por aí na rua com outros meninos. Ficamos sem fazer nada, só conversando e tomando coca. Às vezes nos reunimos também para jogar videogame. A tecnologia avançou, mas o ritual e a amizade continuam do mesmo jeito.

Como um menino, escrevo meus pensamentos e mais algumas histórias em um caderno. Depois coloco isso em um caderno virtual e espero que outras pessoas leiam.

Sonho que um dia eu possa colocar os meus pensamentos e histórias num outro tipo de caderno, com o meu nome na capa. Aí quem sabe eu não precise mais bater o cartão.

Que sonho de menino!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O meu sofá

Ela disse que era Qboa, mas eu sei. Era porra.

Sei até de quem era. Vizinho filho da puta. Já tinha percebido a troca de olhares e o jeito que ela falava com ele. Cadela. Ela não fala desse jeito com qualquer um. Não é simpática, nem um pouco. Nem com quem conhece ela conversa desse jeito.

E o pior é que o cara é gente fina, o filho da puta. Eu que o chamei para almoçar aqui em casa naquele dia. Naquele maldito dia em que se conheceram.

“É Qboa amor”. Por que teria Qboa ali? Na sala? Longe da lavanderia. Qboa de cu é rola, literalmente. Aquele cara que parecia meu amigo gozou no meu sofá. O sofá que paguei caro, que escolhemos sorridentes. Agora o branco do nosso sorriso se tornou o branco viscoso ao lado do qual sento para jantar.

Será que ela realmente espera que eu acredite? Justamente no dia em que ela não foi trabalhar por causa de uma suposta gripe aparece essa porra dessa mancha (ou seria essa mancha de porra?).

Toda vez que olhar pro sofá vou imaginá-los trepando. Posso até visualizar ele tirando o caralho veiudo da boceta da minha mulher e deixando cair porra no meu sofá.

Preciso fazer alguma coisa, mas o quê? Questioná-la, dizendo que sei o que aconteceu? E se ela assumir e me abandonar? E se ela me abandonar e for morar ao lado da minha casa? O que minha família vai dizer? O que eu vou dizer para minha família?

E se eu não disser nada? Vão continuar transando em cima do meu sofá?

Taquei fogo no sofá.