quarta-feira, 24 de junho de 2009

4 unidades

Sacou o cartão telefônico para ligar para a namorada. 4 unidades. Discou. A moça atende e ele ouve música alta ao fundo.
- Oi amor.
- Hã?
- Oi amor tudo bem?
- TUDO BEM E VOCÊ?
- Aonde você tá?
- Hã? Não to te ouvindo direito.
- Aonde...você...está?
- Então amor, tô aqui no bar da facu com a Lu e o pessoal da sala.
- Então tá bom.
- Amanhã a gente se fala tá? Beijotchau.
Ela nem deixa ele se despedir e desliga. “Ah Filha da ****. 'tô aqui no bar da facu com a Lu e o pessoal da sala'. O trouxa aqui achando que a gente ia sair hoje e ela lá, 'com a Lu e o pessoal da sala’. Tá fu****”.
Ele olha para o fone e verifica se ainda está em condições de uso depois da violência com que colocou no gancho. Está.
Enraivecido ele fica com a cabeça baixa dentro do orelhão maquinando a vingança. Na escuridão do orelhão ele encontra o túnel no fim da luz. “Kero sexo 9611-XXXX”.
As pernas tremem. 2 unidades. Ele liga.
- Alô.
- Quem fala.
- Angélica.
- Oi Angélica. Vi seu telefone em um orelhão dizendo que você queria sexo. É verdade?
- Vai tomá ** ** seu ***** ** ****. Vai arrumar o que fazer seu ********.
“Merda”. Tira o cartão rápido, mas não evita que o telefone faça aquele barulho que avisa que o cartão foi esquecido. O barulho o enraivece ainda mais. Senta no meio-fio e pensa. Pensa. Pensa. Pensa.
“Tô aqui no bar da facu com a Lu e o pessoal da sala”, a frase ecoa na cabeça.
Levanta. Olha o orelhão e pega um cartão que ali estava:

Greycy
Loira Sensual
Alta e magra
Completinha
Local próprio e central
0800-XXXX

Ele se pergunta “o que seria uma garota completinha? Será que indica que ela tem cabeça, corpo e membros?”.
Resolve conferir. Antes de conferir o quão completa a garota era ele dá uma espiada na carteira. 10 reais.
“É...10 reais e uma unidade”.
- Alô.
- Daê mano, beleza?
- Beleza e você?
- Beleza.
- Tá em casa?
- Tô.
- Vamo tomá uma bera?
- Partiu.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Isso nunca aconteceu comigo antes"

- Isso nunca aconteceu comigo antes.
Disse ele morrendo de vergonha. Ela tenta ser compreensiva:
- Calma, vamos tentar de novo.
Ele tenta e nada. Passa daqui, aperta dali e não funciona. Ele estava cansado e a esta altura queria ir logo embora.
- Mas e agora que eu já usei os serviços?
- Calma. A gente dá um jeito. Vamos tentar de novo.
Mais uma falha. Ela tenta aconselhar:
- Acontece com todo mundo. Aqui tem acontecido direto.
- É culpa da minha mulher, que fica gastando dinheiro à toa e não sobra pra pagar as contas. Isso vem tirando meu sono.
Responde ele impaciente enquanto ela o olha com certo ar irônico. Ele continua falando:
- Calma. Eu vou te pagar de alguma forma.
Ficam alguns instantes em silêncio olhando um para o outro.
- Paga no crédito então já que no débito não tá passando.