quarta-feira, 29 de maio de 2013

Adeus Guarda-chuva

Hoje perdi meu guarda-chuva.

Como provavelmente você não vai ler isso no dia em que escrevi, então imagine que o seu hoje é o meu hoje (28/05/13). E caso não more no mesmo lugar que eu imagine uma cidade em que chove muito. Vamos chamar esse lugar de Curitiba.

Pois bem, hoje perdi meu guarda-chuva. Mas não vou sentir sua falta. Odeio guarda-chuvas.

Se não está chovendo ele é um peso desnecessário. E se está, tenho que carregar aquele negócio molhado. Não dá pra colocar na mochila. Sou obrigado a colocá-lo no chão e esquecê-lo.

Prefiro usar aqueles guarda-chuvas enormes. Com eles é mais fácil furar os olhos dos desprotegidos, são mais difíceis de perder e se não estiver chovendo podem ser usados como uma bengala.

Há anos o guarda-chuva estava guardado sem guardar nenhuma chuva. Hoje, por motivos curitibanos, tive que levá-lo. Assim como eu, ele teve que sair do seu lugar aconchegante e ir para a cidade fria, molhada e escura.

O ex-meu pequeno e incômodo guarda-chuva não fará falta. Mas espero que ele encontre alguém.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Insuportável

Dormiam juntos, tomavam banho juntos, iam ao shopping juntos, assistiam TV juntos, comiam juntos à mesa...

Oscar fazia companhia para Jurema. Jurema fazia tudo para Oscar. Até festa de aniversário. Dizia que só faltava ele falar.

Na verdade Jurema tinha sorte de o cachorro não falar. Os falantes tinham o costume de abandoná-la.

O marido era um surdo-mudo que conseguiu suportá-la por seis dias não consecutivos.

Carlinhos, o filho mais novo, conseguiu fugir de casa aos três anos. Os outros cinco demoraram a conseguir escapar, pois sempre que estavam saindo ela iniciava uma conversa interminável.

Às vezes os filhos mandavam cartas, mas sem o endereço do remetente, pois temiam que ela fosse fazer uma visitinha.

Distraída por falar ao celular, foi atropelada. Só se livrou do coma por não conseguir ficar tanto tempo sem falar.

O único companheiro de Jurema era Oscar. Jamais se separavam. O Linguiça era carregado para todos os lugares e em alguns deles Jurema já tinha arrumado confusão pela sua presença. Para poder ir a esses locais ela o carregava dentro de uma mala com estrutura adaptada para Oscar, que já tinha viajado de ônibus de Porto Alegre a Curitiba dentro da mala.

O único lugar em que o cachorro não ia era ao médico, que tinha um olfato apurado e percebia Oscar mesmo dentro do canil portátil.

O doutor era conhecido por ser o médico com a letra mais bonita do Brasil. Até ganhou o troféu “Caligrafia Médica”. Depois que conheceu Jurema, aprendeu a escrever de forma rápida e incompreensível só para dispensá-la mais rápido.

Certo dia Jurema foi ao médico e deixou Oscar sozinho em casa.

Quando voltou ele estava pendurado no chuveiro com um cadarço amarrado ao pescoço.