quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Aos amigos

“Quanto tempo”, “Que saudades”, “Por onde anda?”. Tenho ouvido bastante isso. Ouço de quem não deveria ouvir, de quem era próximo e deveria continuar sendo.

Com um sorriso meio sem graça respondo: “Tô trabalhando”. Curioso né? Se afastar para “ganhar” a vida. Proporcionalmente quanto mais trabalho mais me afasto. Aniversários, casamentos e até o tempo sem fazer nada. O tempo passa e não estou vendo. Enquanto deveria viver, vendo meu tempo.

Será que a vida adulta é isso? Viver à venda.

Queria manter todos sempre juntos. Os amigos de hoje e os de ontem, aqueles que você lembra e nem sabe por que se afastou.

Será que é uma justificativa? Será que não há a possibilidade de se ver, ligar, mandar um e-mail, uma carta? Carta não ia dar mesmo, por que o correio está em greve, mas será que é tão difícil cumprir o “vamos marcar uma qualquer hora”? No final somos todos culpados.

Tenho saudades, mas o amor é maior que a saudades.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Amor instantâneo

5 minutos
Comecei a ver uma vantagem em fumar. Pelo isqueiro é que começamos a conversar. Ela é bonita. Tem um jeito meigo de falar.

10 minutos
Ela é simpática

15 minutos
A conversa está fluindo. Isso é difícil, afinal somos curitibanos.

20 minutos
Ela é inteligente. É culta. Sabe conversar. Acho que vai rolar alguma coisa.

25 minutos
Disfarço meus defeitos. Tento fazer com que ela se interesse por mim como estou interessado por ela. Talvez pudéssemos namorar.

30 minutos
Somos tão iguais. Gostamos das mesmas coisas e naquilo que discordamos somos compreensíveis. É a mulher da minha vida.

Última meia-hora
Caraaaaaaaaaaaaaaalho, que guria chata. Essa criatura não cala a boca. Insuportável. Preciso sair daqui de algum jeito.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Vício

Sempre solto, vagando sem compromisso. Livre. “Um alcoólatra largado” diziam.

Um cachorro o acompanhava às vezes, mas quando a fome apertava o companheiro fazia suas expedições. Sua fidelidade não resistia à fome.

Como em um musical cantava pela rua sem motivo aparente. Vivia sorrindo e chorando. E falava, como falava. Principalmente sozinho. Por mais que alguns tentassem, ninguém conseguia ouvi-lo por muito tempo.

Vivia em extrema emoção, mas como a maioria das pessoas, quando estava sóbrio era frio, seco e tinha dificuldade em expor seus sentimentos. O consumo frequente do álcool fazia com que sua frieza fosse diluída.

A única coisa que tinha consigo era uma mochila na qual levava sua cachaça (gasolina, às vezes) e mais sabe-se lá o quê. Não carregava mais os seus sentimentos, os pulverizava.

Os escravos de bens materiais e carcereiros de sentimentos o julgavam e o chamavam de louco, doente, alcoólatra.

Tinha um vício sim, mas não era do álcool. Era um viciado em sentimentos.