sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pra que?

Acordei. Primeiro pensamento: Caralho! Segundo pensamento: Pra que beber? Mesmo ateu, penso: “meu Deus, porque faço isso?”. Por que me suicido a cada noite? Eu sei que vou passar mal então porque faço isso comigo? Será que gosto de sofrer? Que merda! Toca o telefone.
- E aí meu, vamu bebe?
Penso.
- Vamu aê intão.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Crianãça

Que criança linda!
Comentou com a colega de trabalho quando foram ao mercado. Ele, um cara de bom coração, que sem muito esforço se rende a uma criança. Afinal quem não se rende? Quem é que consegue segurar um sorriso, mesmo que de canto de boca, ao ver uma criança? Ou então quando vê aquela gargalhada gostosa?
Como é bom olhar as crianças.
Ah crianças!
Aquelas perninhas e braços rechonchudinhos. Aquela cabecinha com pouquíssimos e ralos cabelos. Quem não se encanta ao ver uma criança bocejar. Aquela bocona aberta e a mãozinha que sem coordenação começa pela testa e escorre até a boca, que quando chega lá o bocejo já terminou. Aquele narizinho pequenininho que não cabe nem o dedo minguinho, a não ser os das próprias crianças.
E o olhar então. Aquele olhar doce, com olhinhos de amêndoas, de quem olha e te diz “oi tiu”. A criança que estava no mercado teria o olhar assim. Teria. Se não fosse confundida com uma anã.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O dia sem tormenta

Naquele dia tudo foi diferente. O vento parecia não uivar. Ninguém se reuniu em torno de um objetivo sério. A madrugada não foi varada. Como a muito não acontecia, a cerveja ditou o ritmo invés do café forte. A alegria que pensavam que nunca iria aparecer chegou. Aquele que sempre esteve por lá finalmente pode passar uma noite quente com a esposa. Naquela noite as estrelas puderam ser vistas. Os que passaram a noite acordados não tinham suas gargantas amarradas. Os pensamentos fluíram naturalmente. Não houve nenhum abalo sísmico em nenhum coração. Ninguém voltou a beber ou a fumar. Naquele dia a noite não foi interminável. Naquele dia, todo mundo continuou ateu. Assim foi o dia em que ninguém morreu.