quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Olhar terminal

Poucas pessoas no ambiente. Ele aguardava. Enquanto isso corria os olhos pelas pessoas que ali estavam. Algumas ele já conhecia, pois as via todos os dias. Por isso, os olhos passavam rapidamente, só pra conferir se os mesmos eram mesmo os mesmos. Olhava como se estivesse conferindo produtos no mercado, atividade que desenvolveria dali algumas horas.
Os olhos correm. Eis que passa por alguém diferente. O olhar que até então passavam da esquerda para a direita ao ver o corpo estranho (que analisando melhor não era lá tão estranho) pausa e volta para a esquerda.
O fato de ser alguém diferente já era um bom motivo para que ele analisasse, especialmente por que se tratava de uma bela dama. Olhou o rosto. Olhou os pés. E foi subindo admirando o corpo até que a escalada de admiração chegasse ao rosto novamente. Chegando ao destino percebe que ela também o olhava.
Susto.
Susto, nervosismo e vergonha.
Não estava acostumado com pessoas estranhas naquele local, quiçá com mulheres, quiçá ² quando elas o olhavam. Ele, macho que é, tenta continuar olhando nos olhos. Eles mantêm a encarada por 30 segundos. Ele desvia, olha para o lado e quando retorna ela não o olhava mais.
O vínculo inicial estava quebrado. Ele dava algumas olhadas repentinas e ela também. Quando os olhares se cruzam um dos dois desvia.
Em determinado momento ele a olha pelo reflexo do vidro e parece que ela corresponde. Ele continua com o olhar fixo. Continua. Continua. Continuam.
Ele tenta olhar para ela diretamente. Ele olha, mas ela continua com o olhar direcionado para o vidro.
Depois disso continuam naquele olhar/desvio de antes. Eis que ela olha diretamente para ele e sem desviar levanta-se e vai em sua direção. Ele não acredita, desvia rapidamente e torna a olhar. Ela vem vindo, se aproxima. Ela dá uma breve pausa. Ele ouve um barulho, mas não dá atenção. Ela continua vindo em sua direção. Ao chegar a um metro de distância a porta se abre e ela desce.
- Maldito terminal do Campina do Siqueira.