sexta-feira, 25 de abril de 2008

A hora

Muitos foram pro buraco por sua causa.
Não fosse ele todos iriam apodrecer frente à família.
O braço forte de tanto carregar caixão.
Calo na mão como todo trabalhador.
Já era acostumado à dor.
Calado como todos que passavam pelo ambiente de trabalho.
A solidão natural por trabalhar com sólidos.
Terra, pá, concreto e sentimentos eram os seus principais instrumentos.
O resto era tudo decomposto,os instrumentos estavam sempre expostos.
Quando dizia a profissão qualquer pessoa ficava pasma.
Várias vezes confundido com fantasma.
Trabalho à noite era sempre parado.
Correr atrás de ladrão já estava cansado.
Tinha que botar pra fora jovens que faziam ritual e até parar sexo de casal.
Familiares e amigos também já viu partir.
Protagonista no momento em que ninguém desejava.
Quando chegou a sua vez, nada de lápide, homenagem ou flores.
Pra sentir as dores, só mulher, filho e o amigo pedreiro.
Assim foi a morte de Antônio Coveiro.

3 comentários:

Unknown disse...

Tanto tempo pertinho da morte. Uma hora ela o abraçaria. hehehe...
Perdeu playboy!

Anônimo disse...

Foguito!

Que texto fúnebre, mas ao mesmo tempo verdadeiro e muuuuuuuuuuitooo bem escrito! É por essas e outras que eu sou sua fã!
:0)

Beijinhos

renan disse...

Parabéns, Guylherme. Você ganhou um "Vale-Publicação-Palavra-Viva-2008".

Pelo menos, é a minha aposta.