terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Passa Voando

O período em que é permitido ser livre está marcado no calendário. São as férias. Tempo de voar. De ganhar os céus. De brincar com vento.

Dá pra ficar o dia inteiro na rua e só voltar pra casa na hora de comer e dormir. O uniforme é chinelo, bermuda e camiseta. Mesmo com o sol nos olhos, não há óculos para bloquear a vinda da vida.

O ar não é usado só para respirar. Serve para ver, sentir e viver.

Antes disso, a preparação deve ser intensa. É preciso construir a nave para poder navegar.

Desbravou um terreno desconhecido para pegar bambu. Com a precisão de um cirurgião transformou-o em três varetas. A maior delas seria a coluna vertebral. As outras duas, uma reta e uma envergada, dariam sustentação ao corpo celeste.

Amarrou as cordas como um marinheiro, atando milimetricamente todas as pontas.

Escolheu as cores com as quais iria desfilar na passarela isenta de modismos. Preto e amarelo contrastariam com o branco e o azul.

Recortada e colada a seda, era fundamental preparar o raio do cometa. A rabiola foi feita com fitas de saco de lixo. Essa era a parte mais rápida. Montar a fantasia que, além de adornar, faz com que não fique pensa. É a asa do avião que agora está pronto para a decolagem.

Mas, antes de ir para cima do inimigo é necessário afiar a sua espada. Para amolar é indispensável quebrar alguns vidros. A lâmpada florescente dá o mais fino fio.

Para passar o cerol é obrigado esticar a linha. Os portões da vizinhança se mostram bastante solícitos. Se vem carro, vem apreensão. Tem que erguer para ele passar. Mas o nervosismo passa.

Quando seca, tudo está acabado para começar. Ele, enfim, colocaria a sua raia para participar do bailado que se dedica a debicar.

Coloca o dedo indicador na boca. Verifica as condições atmosféricas. Tudo pronto, comandante. O seu fiel escudeiro segura a pipa acima da cabeça. Ele puxa rápido. Enfim o fio é o limite. E as nuvens são de quem quiser. Puxa. Ela sobe com vontade. Rumando para todo espaço que há no espaço. Descarrega. Ela cai leve, deixando que a natureza lhe leve devagar. Quando chega na altura das demais raias sente a liberdade que todos deveriam ter.

Mas no céu também há disputa.

Foi cortado tão rápido quanto a passagem da infância.





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