Passou óleo, passou margarina, passou sabonete e não passava a agonia em ter aquilo em sua mão. Passou o dia e ainda não estava livre.
Ter aquela lembrança concreta era como manter uma fidelidade abstrata e unilateral.
Tudo acabou e o grilhão insistia em prendê-lo ao passado.
Engordou demais desde que comprou a aliança, que serviria para selar um compromisso.
Seu corpo engordou, sua cara engordou, seu dedo engordou, seu coração engordurou.
Talvez seu sobrepeso tenha sido o motivo para ser trocado. Agora era outro o dono dos sentimentos dela, que ele julgava ser único dono.
Por imaginar a eternidade ele esqueceu-se do presente e jamais se preocupou em tirar a jóia.
Pensava que a removeria somente para substituir por uma dourada, mas seu comodismo também evitou a troca.
Agora lutava contra a própria natureza para enfim livrar-se. Passou pela sua cabeça a ideia de arrancar o dedo para poder se libertar do fardo.
Queria tirá-la e jogá-la o mais longe possível. Arremessar para além do horizonte. Cegar qualquer visão anterior, ensurdecer seus velhos sentimentos e silenciar a gritante tristeza.
Ao conseguir retirar a infeliz, finalmente se sentiu aliviado como se removesse uma bala do corpo, mas embora se livrasse do projétil não conseguiu curar o ferimento.
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