Era um legítimo manifestante. Tinha faixas, cartazes, entoou gritos e até pegou no megafone. O fervor com que cantava era o de um líder sindical, mas o único sindicato que defendia era o do próprio umbigo.
Jamais trabalhou, mas definia-se como empresário. Aos poucos aprendia a mandar na empresa do pai.
Dudu estava acompanhado do segurança, que desta vez não trajava terno e não o chamava de Seu Eduardo.
Apesar de estar exercendo o seu trabalho, Afonso queria estar no protesto. Mesmo com toda a distância, Afonso e Dudu tinham o mesmo pensamento. O empregado pensava com a cabeça do patrão.
Mesma cabeça, línguas diferentes. A fala de Afonso virava piada quando Dudu estava com os amigos. Assim como sua raça, seu cabelo, seus hábitos, seu jeito de ser, sua vida.
Aceitar o outro era difícil.
Dudu tinha raiva, ódio, incômodo, negação, medo. Só gostava de uma coisa que era de Afonso.
Esteve a vida inteira afastado de pessoas assim, mas não podia evitar que quem lhe protegesse fosse alguém como ele.
Neste dia patrão e empregado estavam juntos, com a mesma camiseta da seleção brasileira e cantando o mesmo canto.
Quando retornaram, retornaram as diferenças. Depois de cantarem os gritos de ordem, a ordem voltou a ser gritada por Eduardo e cumprida por Afonso.
Dudu estava cansado, como se sentia após as partidas de tênis. Mas, antes de deitar na Jacuzzi foi até o quarto da empregada.
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