terça-feira, 5 de abril de 2011

O encontro

Ele passava distraído (como sempre) quando uma mão o tocou. Instintivamente olhou para o lado. Paralisou o corpo. Disparou o coração. A memória afetiva lembrou ao corpo de tudo que (não) passaram juntos.

Era ela. Ela que durante anos foi a mulher da sua vida. No imaginário, mas foi. Depois da faculdade nunca mais se viram e lá se iam cinco anos.

Ela também alimentara uma paixão por ele. Conversavam, saiam juntos, faziam trabalhos juntos e até o trabalho de conclusão de curso dividiram. Mas nada de concreto aconteceu. A timidez dela era ainda maior que a dele e creio que foi isso que impediu o romance. Mas agora estavam ali, mais maduros, frente a frente.

Ficou congelado por cerca de três segundos e após sorriso de ambos conseguiu dizer um empolgado oi. Abraçaram-se. “E aí o que está fazendo? Está indo aonde?”. A conversa seguiu o padrão do encontro com qualquer outro ex-colega. Mas não eram meros conhecidos.

A conversa fluiu e foram até um bar nas proximidades de onde se encontraram. Recordaram o passado e atualizaram o presente, exceto aquilo que ambos gostariam de saber: a situação conjugal.

Queriam aproveitar o momento, poderia ser único e decisivo. Após algumas cervejas ele criou coragem e conseguiu perguntar. Mas a resposta fez sua empolgação se esvair. Ela estava namorando. Aquilo demorou a ser processado. Apesar de ele também ter namorada, havia um sentimento possessivo de que ela não poderia ser de mais ninguém além dele, mesmo nunca tendo sido.

Ela também o questionou. Após a pergunta derradeira o clima não foi mais o mesmo. Ele tinha vontade de saber mais sobre o tal namorado, mas ficaria com tamanho ciúmes que preferiu não perguntar. A curiosidade dela foi mais forte. Quanto tempo, como, quando, quem. Perguntou.

Conversaram mais um pouco e apesar de ambos desejarem ficar mais tempo, muito mais, ele encontrou uma brecha para justificar que fossem embora. Pagaram a conta e despediram-se com um forte abraço. Trocaram telefones, apesar de saberem que jamais ligariam estando namorando, e foi cada um para seu lado.

Ao virarem-se o primeiro pensamento dele foi “merda”. Quatro passos adiante e ela o chama e diz:
- Bruno, eu te amo.
A breve raiva que sentia de si, por ter deixado seu amor escapar, foi amenizado. Assustado e arrepiado, disse:
- Eu também te amo Carlota.

Voltaram. Abraçaram-se novamente e foram embora. Cada qual para seu namoro.

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