Seu Ademir tava animado pro trabalho. Saiu cedinho aquele dia, como todos os dias. Apesar do frio não teve vontade de ficar mais tempo na cama. Às 5 horas abriu a porta, fez o sinal da cruz e saiu confiante, mesmo sem ver um palmo a sua frente. Ademir não sabia, mas dali 5 minutos iria fazer o sinal da cruz novamente.
O caminho de seu Ademir era sempre o mesmo. Devido à neblina intensa foi andando um pouco devagar, pensativo. O pensamento foi interrompido pelo barulho do ônibus, que deveria pegar. Começou a correr em direção ao ponto, mas logo no início da corrida tropeçou em algo. Caiu e olhou o que era. Uma pessoa deitada. Olhou melhor e viu um rombo no peito daquele em quem havia tropeçado. Assustou-se, fez o sinal da cruz, levantou e continuou correndo, agora com dois objetivos: pegar o ônibus e fugir do corpo.
Depois de seu Ademir, dona Alzira passou pela esquina também. Viu que tinha alguém ali. “Uma neblina dessas e esses mininu dormindo na rua. Essis drogado num tem jeitu mesmo”, pensou Alzira.
O terceiro a passar por lá foi o tristonho Fábio. Olhando pro chão, quando viu já estava em cima do corpo. Ficou cerca de um minuto refletindo a cerca do corpo. Desviou e continuou o seu caminho.
A neblina ia baixando, e cada vez mais pessoas observavam o corpo. Alguns passavam sem parar, os curiosos nem foram trabalhar só pra ficar olhando. Com o tempo foi se formando um aglomerado de curiosos. Quando tinham cerca de cinco pessoas em volta chegou alguém dizendo: “É o Gabriel!”. Todos da roda olharam para Edson, que continuou: “É o Gabriel, o filho da dona Vicentina”.
Gabriel era um menino exemplar, que dava orgulho pra dona Vicentina. Estudante e trabalhador sempre saia cedo e chegava tarde. Dedicado. Não faria mal a ninguém. Por que era ele o corpo?
Quanto mais pessoas mais dúvidas e afirmações surgiam. “Será que ele tava enrolado?”, “Tava na cara que era drogado!”, “Tava devendo?”, “Não podia ser tão bonzinho assim.”.
Dona Maria trouxe o lençol branco, que no meio ficou manchado de vermelho. A mãe estava trabalhando e só ficou sabendo pela noite. Ninguém quis ligar para dar a má notícia.
Quase meio-dia o IML chegou. O sol já tinha secado o sangue. A neblina tinha ido embora. Quando o rabecão levou o corpo ficou um pedaço de papel na grama:
“Desculpe. Matamos o cara errado”.
Um comentário:
Putz, Foguito, que texto pesadooooo
Gostei, muito boa a redação, mas pesadoooooooooo
Enfim, nem tudo são flores, né?
:0)
Bjs
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