A hora não passa. Esse tik tak me deixa louco. Repetitivo, como todos os dias, mas necessário. Sem o relógio não vejo quanto tempo passa realmente, apesar de parecer não passar.
O horário é uma das poucas conexões que tenho com o mundo externo. Lá e aqui o tempo real é o mesmo.
Grades nas janelas e a porta sempre fechada fazem com que muitas vezes não só o meu corpo esteja aqui, mas também meu pensamento. Não consigo pensar lá fora e sou obrigado a me ater aqui.
O carcereiro também deve passar por isso. Ele fica andando pelos corredores olhando aqui pra dentro enquanto nós olhamos lá pra fora. Somente quando estou próximo à janela é que deixo o pensamento sair.
Os demais prisioneiros também ficam como eu, com uma cara de nada. Expressando exatamente aquilo que fazem: nada.
Tanta gente com tanto tempo “disponível” que acabam usando todo esse tempo para esperar o tempo passar.
Demora, mas ele passa... BLÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉH...finalmente tocou o sinal!
É hora do recreio.