segunda-feira, 27 de junho de 2011

O tempo (não) passa

Teve outros corpos, outras namoradas, outros casos, mas ninguém foi igual. Ela também teve outros.

Cinco anos se passaram. Um namoro para ambos. Ele procurava evitá-la. Sofreram ambos, com o namoro e com a separação, mas sofria(m) mais afastados.

Após vagar por outras sentia cada vez mais que era ela quem queria. Somente ela o completou. Só podia dar certo com ela novamente. O tempo afastado serviu para mostrá-lo o quanto foram felizes juntos. E essa felicidade poderia se repetir?

Soube que estava solteira. Ligou. Será que o número ainda era o mesmo? Por um instante quis que ela não atendesse.

Olhou o número no identificador e sabia que conhecia, demorou alguns instantes para lembrar-se quem era. Nem tinha mais na agenda. Ficou surpresa ao lembrar.

Atendeu. Ele propôs um encontro e ela aceitou.

Após uma longa conversa, tocou-lhe a mão e foi ao ponto que desejava, mesmo com algumas dúvidas.

A resposta demorou cerca de um minuto. Mas parecia a eternidade. Sentiu vontade de correr, mas já que perguntou teria que esperar a resposta. Suava frio. Aquele tempo de reflexão dela fazia com que o tempo não passasse...

























































































...Beijaram-se. Voltaram.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Lembrança e lambança

A pequena calcinha de renda aparecia para quem quisesse ver. A rua era calma e ninguém passava ali àquela hora, no momento em que despreocupadamente fazia as unhas dos pés com as pernas abertas na suposta privacidade do quarto, no segundo andar.

Na casa do outro lado da rua um mocinho a observa por trás da cortina. Foi a primeira vez que viu uma calcinha. Assim, ao vivo, sem ser a da mãe ou da irmã. Estava deixando a infância para trás e chegava a pré-adolescência, apesar de já se considerar um adolescente completo e odiar quando alguém mais velho o chamava de criança.

Ela cuidava das unhas com muita atenção. Deveriam estar belas para exibir para todos e todas na faculdade. Já passara dos 18, portanto era considerada (ao menos legalmente) adulta, morava com os pais e não tinha preocupações financeiras, dedicava-se apenas à vaidade. E um pouco à faculdade.

Ele até se interessava por algumas meninas da escola, mas daquele momento em diante a vizinha, suas grossas coxas e sua pequena calcinha o conquistaram. Sua paixão passou a ser a mulher da janela.

Sentiu que alguém a olhava, seu olhar percorreu a rua e nada. Procurou o olho e encontrou. “Caralho. Não acredito que aquele piá de bosta tá olhando minha calcinha”. Fechou a cortina.
A alegria do menino foi breve, mas a cena ficou na sua memória por muito tempo. Depois disso, ficava cada vez mais tempo olhando para fora. A janela passou a atraí-lo mais do que os carrinhos.

Quase um ano após a pintura da cena em que pintava as unhas ele a viu vestindo apenas uma toalha enquanto ia buscar uma blusa no varal. Já havia beijado e estava próximo de perder a virgindade. A paixão e o tesão platônico voltaram com tudo.

Passado algum tempo ela se mudou, para tristeza dele. Os vizinhos disseram que a família foi morar em outra cidade, pois o pai arrumou trabalho por lá. Ele nunca mais a viu, mas ainda lembra-se dela vez em quando. Nunca a imaginou sendo mais velha. Eternamente ficou na sua memória daquele jeito, com as unhas bem feitas e a calcinha preta. E muitas, mas muitas vezes, imaginava-a sem ela.

Passados 30 anos ela ainda é inspiração e motivo para suas punhetas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Infeliz felicidade

“Toda mulher, após trinta dias de felicidade, sente fome e sede de desgraça.”
Antônio Maria


Sentia tudo, menos felicidade. Ódio acima de tudo.

Todos os trejeitos dele que antes adorava agora a traziam raiva. Cada piadinha sem graça fazia com que ela se sentisse aliviada por não estar com uma faca na mão.

Não agüentava mais, mesmo sendo o casal perfeito aos olhos e bocas alheios. Se aquilo era perfeição ela não a queria mais, queria apenas a felicidade.

Guardadas as proporções humanas, ele realmente era perfeito. Tudo aquilo que ela e outras buscam ali estava. Era gentil, educado, atencioso, a tratava bem e lhe dava carne na mesa e na cama.

Com relação ao sexo mantinha o mesmo vigor de sempre, mas ela não sentia mais atração.

Não pensava nem cobiçava outro. Simplesmente queria terminar. Mas não tinha nenhuma justificativa para fazer isso. Como uma criança mimada ao ter aquilo que sempre quis passou a não mais querer.

Certo dia pensou em falar e acabar com tudo definitivamente. Planejou o dia inteiro. E não é que o filho da puta me chega em casa sem mais nem menos com um buquê de flores. E daí ia falar como?

A infelicidade disfarçada se arrasta cada vez mais até se inverter. Sem mais nenhuma alternativa ela mata sua fome e sede de desgraça. Torna-se a desgraça ao se matar. Deixou um bilhete:
“Não era você. O problema era eu”.

Com lágrimas escorrendo ele pensa: “Será que se tivesse contado que chifrava ela isso não teria acontecido?”